SEM PROTEÇÃO

APEPA aponta saídas para mitigar impacto de redução de área segurada

APEPA aponta saídas para mitigar impacto de redução de área segurada

A área coberta pelo seguro rural no Brasil deve alcançar em 2025 o menor patamar dos últimos dez anos. Diante desse cenário, a Apepa (Associação Paranaense das Empresas de Planejamento Agropecuário), apresenta quatro pontos considerados vitais para reverter a tendência. São eles: descontingenciar o orçamento deste ano, quitar o saldo devedor acumulado, ampliar os recursos para 2026 e aprovar o Projeto de Lei 2951, que cria regras estáveis para o setor. Segundo a entidade, apenas com essas medidas será possível restabelecer a confiança dos produtores e garantir a segurança alimentar do País.

“Estamos caminhando para um momento extremamente crítico. Se nada for feito, teremos a menor área segurada da última década, deixando milhares de agricultores sem proteção contra perdas”, alerta Lucas Schauff, diretor-técnico da Apepa.

Cenários possíveis

De acordo com projeções da entidade, existem três caminhos à frente para 2025. O cenário atual, com o orçamento eduzido e contingenciado, levaria o seguro rural ao pior resultado em dez anos. No cenário intermediário, se o governo liberar os recursos que hoje estão retidos, o desempenho seria semelhante ao do ano passado: baixo, mas menos desastroso. Já o cenário ideal dependeria de um investimento de R$ 1,4 bilhão. “Com esse valor, produtores e crédito agrícola estariam mais protegidos, permitindo o melhor resultado em uma década”, explica Schauff.

Impacto na produção

O efeito imediato da instabilidade no setor é a retração da oferta de seguros. A cultura da soja, a mais segurada do Brasil, corre o risco de ficar praticamente sem apoio neste ano. Isso afetaria sobretudo os pequenos e médios agricultores, que não possuem margens financeiras para absorver prejuízos. “A imprevisibilidade trava o mercado. Sem uma política estável, o produtor familiar fica vulnerável e pode perder a continuidade de sua atividade”, afirma Schauff.

Criado para dar segurança em um setor exposto a riscos climáticos e de mercado, o seguro rural ganhou importância estratégica ao longo dos últimos 20 anos. Na última década, porém, a área segurada cresceu menos do que o esperado, oscilando conforme o tamanho do subsídio governamental. Para a Apepa, o problema não é a existência do programa, mas a falta de previsibilidade. “O seguro rural garante estabilidade ao produtor, ao consumidor e ao Brasil. Mas precisamos de um planejamento de longo prazo, e não de liberações esporádicas de recursos”, reforça Schauff.

Custos econômicos e sociais

Especialistas lembram que o impacto de uma quebra de safra não se restringe ao campo. Com menos produção, os preços dos alimentos sobem, a inflação pressiona a economia e o poder de compra das famílias diminui. Além disso, bancos e cooperativas de crédito se retraem, já que não há cobertura para garantir financiamentos. Nesse contexto, a ausência de seguro rural afeta também a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional.

Para mudar esse quadro, a Apepa busca o apoio de deputados e senadores. O objetivo é sensibilizar o Congresso sobre a urgência do tema e garantir recursos estáveis. A aprovação do PL 2951 é considerada prioridade, pois cria regras permanentes para o programa. Paralelamente, a entidade pressiona pelo desbloqueio imediato do orçamento de 2025, pelo pagamento de dívidas atrasadas e pela definição de um volume maior de recursos para 2026.

“Não se trata apenas de proteger lavouras, mas de preservar a segurança alimentar do País e a renda de milhares de famílias. O seguro rural é um instrumento de estabilidade nacional”, resume o diretor-técnico da Apepa. Para os especialistas, a palavra-chave é previsibilidade. Países que consolidaram seus programas de seguro agrícola, como Estados Unidos e Espanha, oferecem estabilidade orçamentária, permitindo que o mercado se organize e os agricultores planejem sua produção. No Brasil, a cada ano produtores e seguradoras vivem a incerteza da liberação ou não de recursos. “Sem horizonte definido, o setor trava. É isso que precisamos mudar com urgência”, conclui Schauff.