Agronegócio

Clima trava quase 130 mil hectares de trigo no campo

Cascavel – No ano passado, na última semana do mês de setembro, 95% das áreas destinadas ao trigo já haviam sido colhidas na região oeste do Paraná. Neste ano, a colheita atinge apenas 35%. Isso significa que, dos 195,6 mil hectares destinados à cultura na safra de inverno nos Núcleos Regionais da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel e de Toledo, em torno de 130 mil deles seguem emperrados no campo.

A cultura, com maior cultivo no núcleo de Cascavel onde estão 165 mil hectares e onde se esperava colher 520 mil toneladas, já possui quebras certas, ocorre que elas ainda estão dentro dos percentuais aceitáveis de variação de produtividade. A preocupação maior, segundo a economista do Deral (Departamento de Economia Rural) Jovir Ésser, é com o que ainda não foi colhido e o que está por vir.

Os prejuízos no trigo começaram a ser mais fortemente sentidos, além de duas importantes e fortes geadas durante o inverno, na semana passada com um vendaval que provocou tombamento de muitas lavouras, além de chuvas de granizo pontuais.

Somado a isso, há o atraso na colheita que está fortemente associado ao retardamento no plantio também devido a fatores climáticos, que obrigaram a mudança de estratégias no campo para todas as lavouras.

Neste momento, das áreas em desenvolvimento, cerca de 100 mil delas estão prontas para serem colhidas e em torno de 30 mil em frutificação. Se o volume de chuva desta e da próxima semana se confirmar, as perdas poderão ser dadas como certas e em elevados percentuais.

Segundo o Sistema Meteorológico Simepar, até o fim da próxima semana pode chover 160 milímetros na região, ou seja, em apenas dez dias o equivalente ao esperado para todo o mês. “Se essa chuva toda se confirmar, o trigo que ficar na lavoura vai enfrentar bastante dificuldade. É muito preocupante. Já tivemos perda de qualidade em decorrência da chuva e do vento da semana passada e o que está pronto para ser colhido pode sofrer interferências novamente, com tanta umidade pela frente”, destacou.

A colheita do trigo só deverá ser encerrada na região na metade do mês que vem. Outra preocupação é com o atraso no plantio da soja nas áreas hoje ocupadas por essas lavouras. “Quem iria plantar mais cedo e está com o trigo no campo, isso interfere no cultivo da soja, mas as regiões hoje com as lavouras mais atrasadas estão na região de Catanduvas e Ibema. Por lá, não se tem tanto a cultura de plantar milho safrinha, então se a soja demorar um pouco mais para ser cultivada agora não deverá interferir tanto na safrinha”, completou.

Para o produtor Olavo Soares, o trigo este ano era uma esperança de boa rentabilidade depois de não conseguir plantar milho na safrinha. Ele perdeu o zoneamento agrícola para esta cultura e dedicou 20 hectares à triticultura.

As lavouras dele estão prontas para serem colhidas, mas a chuva e o vento da semana passada trouxeram prejuízos e não sabe se nesta semana vai ter tempo hábil para entrar com as máquinas no campo para colher. “Ainda não sei de quanto será minha perda, mas vamos fazer o que? Quem planta trigo está acostumado com as perdas já e os prejuízos. Quando não é uma coisa, é outra”, afirma.

Em toda a região oeste a expectativa inicial de colheita era de 608 mil toneladas. Os dados só deverão ser reavaliados em duas semanas.

Muita chuva e temporal pela frente

Esta e a próxima semana deverão ser marcadas por chuvas em excesso na região e com possibilidade de temporais característicos da estação. A aproximação de uma frente fria, que não deverá baixar muito as temperaturas, trará precipitação em grandes volumes, trovoadas, rajadas de vento e granizo em pontos isolados.

Os principais pontos de instabilidade começam a ser sentidos nesta terça-feira, mas, segundo o Simepar, eles tomam mais corpo na quarta-feira, quando poderá chover mais de 30mm no oeste, e temperaturas variando de 20ºC a 28ºC. Na quinta-feira a chuva segue com força, também com possibilidade de 30mm. Sexta, sábado e domingo seguem instáveis, mas com possibilidade de precipitação em menor volume.

O tempo pode firmar novamente na segunda-feira da próxima semana, mas na terça e na quarta-feira as áreas de instabilidade voltam a se formar. O maior volume de chuva está previsto para a sexta-feira da semana que vem, com alerta para de mais de 50mm em um dia.