
Com base nos dados, a ONG pede que Organização dos Estados Americanos (OEA) pressione o governo do presidente Nicolás Maduro para libertar os detidos, julgados arbitrariamente, e que investigue as denúncias de maus-tratos. José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW, lembra que a repressão contra a dissidência não é nova, mas é feita de maneira cada vez mais ?escancarada?.
? As autoridades se aproveitam da absoluta falta de independência para perseguir penalmente e prender não apenas líderes da oposição mas cidadãos que simplesmente buscavam expressar suas opiniões políticas e até transeuntes que não tinham nada a ver com a mobilização contra o governo. ? afirma ao GLOBO. ? Vemos como acusam os dissidentes de delitos tendo como base evidências que incluem a posse de panfletos pedindo a libertação de presos políticos ou promovendo o referendo revocatório.
Dos 21 detidos, apenas dois não foram imputados penalmente por delitos e nove continuam presos, dentre elas José Gregório. Segundo ele, que conversou diretamente com especialistas da HRW, as torturas incluíam descargas elétricas, asfixia e ameaças, físicas ou verbais, de violação. Ele foi processado penalmente, apesar de não terem sido apresentadas provas contra ele.
? Os níveis de abuso por parte das forças de segurança aumentaram dramaticamente desde 2014. Nos últimos dois anos documentamos dezenas de casos de detenções arbitrárias e abusos, com casos gravíssimos de golpes, descargas eléctricas e até ameaças de morte ou violação ? relata Vivanco.
TRABALHADORES QUE APOIAM REFERENDO SÃO DEMITIDOS
A Promotoria venezuelana afirma que a maioria dos 21 acusados foi detida ?durante a preparação ou execução de atos violentos?, mas mas não forneceu provas concretas para as prisões. E alguns deles disseram que não tinham sequer participado de protestos. Além disso, os 19 presos levados à Justiça só puderam entrar contato com um advogado poucos minutos antes da audiência ? o que na maioria dos casos aconteceu depois de expirar o prazo legal máximo de 48 horas estabelecidos pela lei venezuelana.
Outro documento, também publicado nesta quarta-feira, mostra a discriminação política do governo contra trabalhadores que apoiam o referendo ? e detalha denúncias sobre a demissão arbitrária de dezenas de funcionários públicos, supostamente em retaliação. Pelo menos 16 empregados demitidos do Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributária (Seniat), em Caracas, e em nove outros estados haviam assinado o referendo. Eles trabalharam no Seniat por mais de uma década.
Segundo a Human Rights Watch, que teve acesso às cartas de demissão enviadas a 14 trabalhadores, todas tinham texto idêntico, e não especificavam as causas das demissões.