Cotidiano

Infidelidade alimenta mercado de serviços anti-amante na China

PEQUIM – A prosperidade experimentada pela China nos últimos anos — com ascensão de trabalhadores, empresários e executivos — vem gerando as mais variadas oportunidades de negócio. Até segmentos altamente especializados, como o exótico serviço “anti-amante”, voltados para esposas traídas. As firmas, encontradas nas maiores cidades do país, são especializadas em dar fim aos casos extraconjugais, afastando as amantes e dando “consultoria” para esposas sobre como salvar o casamento, conforme reportagem do “The New York Times”.

Foi uma empresa dessas que a senhora Wang, de 39 anos, moradora de Xangai, procurou ao descobrir, no celular do marido, mensagens que indicavam que ele vinha fazendo “hora extra” com uma das funcionárias. Depois de chorar muito e passar a noite em claro, ela arregaçou as mangas e tomou uma atitude. Mas não confrontou o marido. Em vez disso, fez uma busca na internet e encontrou a Weiqing International Marriage Hospital Emotion Clinic Group, firma especializada em ajudar esposas a se livrar da “concorrência”. A firma diz que atendeu 10 mil clientes no ano passado e 8.000 no anterior. Mas não há como checar esses números.

O serviço, que pode custar a partir de US$ 10 mil, consiste em infiltrar uma pessoa na vida da amante, ganhando sua amizade e confiança, numa tentativa de fazê-la romper com o homem infiel, seja com qual argumento for. Firmas como a Weiqing International Marriage Hospital Emotion Clinic Group são procuradas por mulheres traídas, num momento em que a abertura comercial da China abre espaço e cria incentivos para o crescimento dos romances extraconjugais: manter uma jovem amante é sinal de status para muitos executivos e funcionários públicos, e as oportunidades para trair estão se multiplicando.

Naturalmente, não há dados estatísticos sobre casos extraconjugais, nem uma associação de firmas anti-amante que reúna dados do segmento. Mas uma busca na internet rende diversos anúncios e links para blogs relacionados associados a serviços do gênero, especialmente em grandes cidades, como Xangai e Guangzhou.

— Pesquisei em alguns sites e não sabia se devia confiar neles. Mas não tinha outra opção, que fazer? — conta a esposa.

No fim das contas, o esforço deu certo. A Weiqing conseguiu colocar alguém na vida da amante do marido e convencê-la a aceitar um trabalho, com salário mais alto, em outra cidade. A companhia afirma que começou a atuar em 2001, em Xangai, e já presta serviços em 59 cidades.

ESTRATÉGIA DE COMBATE

O processo de afastamento das amantes começa com uma pesquisa acerca da vida delas, feita por um grupo de investigadores que inclui psicoterapeuta e advogado. A ideia é analisar sua família, amigos, educação e trabalho, antes de mandar um “conselheiro” para abordá-la.

— Uma vez que a gente conheça o perfil da pessoa, ou seja, se está interessada em dinheiro, amor ou sexo, podemos traçar uma estratégia — contou Shu Xin, diretor da Weiqing, ao “The New York Times”.

O “conselheiro” pode se mudar para o mesmo prédio que a amante ou começar a fazer ginástica na mesma academia para se aproximar, se tornar seu confidente e, finalmente, manipula-la para decida deixar o homente. Às vezes, o “conselheiro” encontra para ela um novo amante, um mprego em outra cidade, ou simplemente a convence a deixar o homem casado. A agência diz que os “conselheiros” são proibidos de se envolver intimamente com a mulher e de ameaçá-la.

Com sede em Shenzhen, a Reunion Company é outra firma do gênero. Seu diretor, Kang Na, afirma que recruta “conselheiros” do sexo masculino de seu próprio grupo social. Os critérios de escolha são personalidade e aparência. Então, os homens são treinados para não serem desmascarados e para navegar por complexas situações emocionais.

Enquanto isso, o serviço anti-amante aconselha a esposa traída sobre como ficar mais atraente para o marido.

— Queremos quebrar as formas tradicionais de pensar — diz Kang. — As mulheres chiness pensam que se tratam bem um homem, ele vai amá-la mais. Mas, frequentemente, nós, homens, amamos que nos machuca mais.

Uma resposta para a infidelidade é divórcio. Mas divórcio pode ser custoso, especialmente para as mulheres. Além do estigma social que recai pesadamente sobre elas, na China as propriedades tendem a ser registradas no nome do marido. Uma mulher divorciada pode acabar sem teto.

Os serviços anti-amante, porém, são caros. Kang cobra cerca de 300 mil yuans, cerca de US$ 45 mil, mas diz que os custos podem subir se os “conselheiros” precisarem, por exemplo, de apartamentos ou carros caros para garantir seus disfarces e se aproximar das amantes. Normalmente, metade da taxa é cobrada de imediato e a outra metade fica para o final, se tudo der certo. Kang afirma que não cobra nada se o trabalho não der certo, mas assegura que a taxa de sucesso é de 90%. Em geral, o processo dura três meses. O executivo diz que recebe 175 consultas por dia.

Yu Feng, diretor da Chongqing Jialijiawai Marriage and Family Service Center, disse ao “The New York Times” que já afastou 260 amantes em dois anos.

A campanha anti-corrupção deflagrada pelo presidente Xi Jinping desde que chegou ao poder, em 2012, pode atrapalhar os negócios. Mais de 280 mil funcionários públicos sofreram sanções no ano passado. Além disso, medidas de austeridade buscam cortar os abusos e e extravagâncias do funcionalismo — e as amantes são um dos drenos de recursos dos servidores. Estudo feito em 2014 pela Renmin University revelou que 95% dos funcionários públicos corruptos mantinham amantes.