RIO ? Em depoimento à polícia, Valéria Correia da Rosa, de 13 anos, culpou a imprudência do padrastro ao volante como a causa do acidente no qual morreram sua mãe, seu irmão e outras quatro pessoas, em São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul. A delegada Elaine Schons, responsável pelo caso, ouviu a garota um dia depois da alta médica, no último dia 20, e afirmou que o motorista Fabiano Irassoque Brum é o principal suspeito de ter provocado a batida.
? Ela contou que ele dirigia em zigue-zague, andava pelo acostamento, pela pista contrária. A menina e a mãe pediam para ele parar, até ameaçaram descer do veículo e pegar um táxi. Fabiano teria respondido que não faria nada de errado porque seu filho de 8 meses estava no carro. Ele é o principal suspeito ? relatou a delegada.
A policial diz que aguarda os laudos da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que esteve no local do acidente, e de exame de alcoolemia feito Fabiano para concluir o inquérito. Mas, mesmo sem resultado, Elaine diz que os vestígios encontrados no trecho da BR 285 onde o carro bateu reforçam o depoimento da menina.
Os investigadores recolheram copos de chope que, que segundo a delegada, evidenciam a ingestão de bebida alcoólica. Eles anotaram também, ainda de acordo com Elaine, o ponto de impacto e a posição final dos dois veículos, o que embasaria a informação passada por Valéria de que Fabiano invadiu a pista contrária. Não havia marcas de freio naquela altura da BR-285.
? Acreditamos que o carro vinha invadindo a pista do outro lado. Na tentativa de evitar a colisão, os dois foram para a pista que seria a correta de Fabiano. A menina me contou que o padrasto alternava entre a contramão e o acostamento da contramão. Ela e a mãe viram o outro veículo se aproximando, avisaram, e Fabiano teria dito que desviaria quando ele chegasse pertinho ? contou a delegada.
Elaine contou que a menina parecia revoltada com o acidente. A jovem ainda se recuperava na cama quando confidenciou à delegada que acreditava que o irmão pequeno a havia salvado da morte.
? Ela me pareceu muito madura. Estava consciente de que o fato de seu irmão estar no colo pode ter salvado sua vida. O impacto teria sido todo no bebê, o que a teria salvado. A menina está em uma situação séria, precisando de cuidados, e é muito pobre. Vai precisar conviver, além do trauma, com a falta de recursos ? lembrou Elaine.
Lesionada na perna, a menina recebeu os investigadores já na nova casa, sob a guarda dos avós maternos, para prestar depoimento. Os laudos finais do acidente podem demorar até três meses para ficarem prontos, já que o material é enviado à capital Porto Alegre e só depois segue para São Luiz Gonzaga.
COMOÇÃO NO ENTERRO
Valéria acompanhava a mãe Gisele de Oliveira Correia, de 29 anos, o padrastro Fabiano Irassoque Brum, de 33 anos, e o irmão, Fabiano Ariel Correia Brum, de apenas 8 meses, além de um casal de amigos em uma festa no município vizinho de Santo Antônio das Missões.
Na volta para São Luiz Gonzaga, o carro em que estavam bateu em outro veículo na BR-285. O acidente deixou seis mortos. Apenas Valéria e Igor de Santis Moraes, de 30 anos, que estava no outro carro, resistiram à colisão. Ele também foi ouvido pelos investigadores, mas não pôde ajudar porque contou estar dormindo no momento da batida.
A menina de 13 anos comoveu internautas ao conseguir o aval médico para ser levada de maca ao velório da mãe e do irmão. Com a pena imobilizada, Valéria Correia da Rosa insistiu em participar da cerimônia, em uma funerária no mesmo quarteirão do hospital. Ela chegou de ambulância e permaneceu no local por cerca de uma hora, de onde retornou para ser submetida a uma cirurgia. A maca foi colocada ao lado dos caixões, enterrados na manhã de segunda-feira no cemitério municipal da cidade.