Cotidiano

Doações em caixa 2 pela Odebrecht em 2014 chegam a R$ 40 milhões

63434218_The headquarters of Odebrecht SA are pictured in Sao Paulo Brazil December 21 2016. REUTERS.jpg

BRASÍLIA ? Somente nas eleições de 2014, a Odebrecht doou aos partidos cerca de R$ 40 milhões por meio de caixa 2. A cifra é uma estimativa feita a partir do depoimento do ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior. No interrogatório ao Tribunal Superior Eleitoral na quinta-feira, o executivo foi explícito quanto a origem desses recursos: todos seriam provenientes do ?Departamento de Operações Estruturadas? da Odebrecht, área da empresa responsável pelo pagamento de propinas.

Odebrecht Caixa 2 ? 3/3

O empresário disse que ?todos os grandes partidos? receberam dinheiro legal e por meio de caixa 2 da Odebrecht e subsidiárias. Benedicto Júnior detalhou que o valor de cerca de R$ 200 milhões foi definido numa reunião entre Marcelo Odebrecht e executivos da companhia. Deste total, 60% (R$ 120 milhões) saíram da construtora; de 20 % a 25% (de R$ 40 milhões a R$ 50 milhões) de empresas terceirizadas ligadas a Odebrecht; e de 15% a 20% (R$ de 30 milhões a R$ 40 milhões) por meio de caixa 2.

Destes R$ 40 milhões, relatou o empresário, R$ 9 milhões foram para as campanhas dos tucanos Aécio Neves à Presidência da República, Pimenta da Veiga, ao governo de Minas Gerais, e de Antonio Anastasia, que concorreu e se elegeu ao Senado. Este dinheiro também foi partilhado com Dilmas Toledo Júnior (PP), eleito deputado federal. Ao menos R$ 3 milhões, segundo Benedicto Júnior, foi pago a Paulo Vasconcelos, que atuou como marqueteiro da campanha de Aécio.

Como o foco do depoimento de Benedicto Júnior ao TSE é a chapa Dilma-Temer, que está sob investigação da Justiça Eleitoral, o relato envolvendo o PSDB durou menos de um minuto, segundo uma fonte que acompanhou a oitiva afirmou ao GLOBO.

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Benedicto Júnior disse, segundo relato de uma pessoa que acompanhou o depoimento ao GLOBO, que não poderia ajudar em mais detalhes envolvendo as campanhas presidenciais por dois motivos: o primeiro, porque os grandes candidatos eram atendidos por Marcelo Odebrecht, dono da empresa; o segundo, explicou que sua mulher estava tratando um câncer em 2014 e por alguns períodos não acompanhou os desdobramentos das negociações. Um desses momentos em que não atuou foi no acerto entre Marcelo e Paulo Skaf, então candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB, de recebimento de R$ 6 milhões. Benedicto contou que setivesse sido consultado, teria orientado Marcelo a não doar recursos a Skaf porque ele não tinha chance de vencer. O empresário salientou, no entanto, que o acerto ocorreu porque Marcelo e Skaf têm relação de amizade. Ele não soube dizer se a doação foi realmente feita.

Já no depoimento de Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, o empresário disse que tinha informações a prestar sobre as outras candidaturas presidenciais, que não apenas a chapa Dilma-Temer, mas não pode fazer o relato. O depoimento, neste momento, estava sendo conduzido pelo juiz auxiliar Lorencini, pois o ministro Herman Benjamin, relator do processo, estava ausente.

?O senhor não pode falar nada?, disse o juiz auxiliar, segundo relato de uma fonte ao GLOBO, justificando que a peça principal em análise são as contas eleitorais de Dilma Rousseff e Michel Temer.