BRASÍLIA – O economista Samuel Pessoa afirmou a servidores do Tesouro Nacional nesta sexta-feira que, mesmo quando o país voltar a crescer, ainda estará ?um pouco distantes da condição de solvência?. Por isso, para ele, o próximo governo não terá como fugir de uma nova rodada de aumento de tributos. O economista foi convidado pelo Tesouro para palestrar pelos 31 anos do órgão.
? Minha impressão é que, quando olharmos essa economia retomando – em algum momento entre esse e o próximo ano -, a gente vai ver que as mudanças institucionais, o ajuste no estado de bem estar social, na estrutura de gasto, fez com que parássemos de cavar um buraco, mas ainda estaremos um pouco distantes da condição de solvência. Imagino que o próximo governo passaremos para nova rodada de aumento tributário.
Ele ainda afirmou que a gravidade da crise vivida pelo país está associada a dois pontos principais: o esgotamento de um modelo econômico e ao impacto da reação dos investidores à piora fiscal, que só foi percebida no fim de 2013, apesar de já estar se estendendo há vários trimestres. Para ele, em outubro de 2013, quando o Tesouro divulgou um resultado primário do governo central muito ruim, o mercado finalmente percebeu que havia uma deterioração fiscal e o ?risco Brasil subiu 100 pontos em um mês?.
? Todo mundo depois de 2008 desacelerou um pouquinho. Mas ninguém está nem próximo da pior recessão dos últimos 120 anos, ninguém passou do crescimento para o negativo. Tem que ter muito mais coisa do que a desaceleração internacional para explicar nossa crise ? disse.
Ele ainda descartou o peso da influência da crise hídrica em 2014 e da política fiscal austera do ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy. Para ele, o investimento já havia começado a cair muitos trimestres antes disso.
Pessoa ainda criticou a dificuldade do país de segurar ciclos longos de crescimento, ao contrário de países asiáticos, por exemplo. Segundo ele, um dos motivos para isso é que o país não aumenta sua poupança em momentos de crescimento. Isso porque, sempre que há uma melhora na economica, os governos deixam de poupar para financiar decisões de estímulo ao consumo.
? A gente aumenta muito a renda disponível pro consumo e, daquele crescimento adicional que o país teve, a parcela que é poupada é menor.