SÃO PAULO – A elevação de juros nos Estados Unidos reflete o fortalecimento da maior economia do mundo, com mercado de trabalho mais aquecido e taxa de desemprego em queda. Paulo Nogueira Gomes, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, explica que no passado esse cenário representava o risco da inflação sair do controle e isso só poderia ser combatido com um forte aperto monetário. No entanto, os ganhos de produtividade nos últimos anos na economia americana permitem que esse movimento seja feito de forma mais gradual.
? O processo de alta de juros deve durar até o final de 2019 e o juro deve chegar a 3% ao ano, o que é abaixo da média histórica. Isso ocorre porque os Estados Unidos têm tido um ganho muito forte de produtividade, o que faz com que a inflação fique sob controle mesmo com o crescimento da economia, ao contrário do que ocorria no passado ? explicou. A produtividade está em 107,4 pontos e, antes da crise de 2008, era em torno de 95 pontos.
O comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o bc americano) elevou nesta quarta-feira os juros em 0,25 ponto percentual, indo para a faixa de 0,75% a 1% ao ano. É esperado mais dois aumentos da mesma magnitude ainda em 2017 e outros seis, de forma gradual, até o final de 2019.
Gomes explica que essa elevação está calcada em uma forte recuperação do mercado de trabalho. A taxa de desemprego está em 4,7% e a inflação ao consumidor em 2,7% – já acima da meta, mas ainda considerada sob controle, uma vez que o núcleo de inflação está abaixo de 2%.
? Com um mercado aquecido, é necessária a normalização das taxas de juros, que foram a zero com a crise financeira de 2008. Os índices de confiança cresceram muito desde as últimas eleições e a economia está retomando a geração de empregos ? lembrou.
O aumento de juros era esperado e, no longo prazo, a tendência é de um diminuição do fluxo de capitais para os países emergentes, como o Brasil .Por essa razão, as taxas de câmbio podem ficar pressionadas. No entanto, esse movimento será gradual, acompanhando o movimento do Fed – quando menor o diferencial de juros em Brasil e Estados Unidos, menos o interesse do estrangeiro em deixar o dinheiro aqui. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano, mas até o final do ano deve voltar para a casa de um dígito.
? Não vamos ver uma fuga de capitais, mas uma redução do fluxo devido a esse menor diferencial ou até oscilações pouco perceptíveis. Isso ficará mais evidente ao final desse processo, já que o Brasil deve demorar para retomar o grau de investimento ? disse.
Esse efeito, segundo o economista, pode ser minimizado com as reformas econômicas e retomada do crescimento do Brasil de maneira mais intensa.