ORLANDO – Pouco depois das 2h da manhã (hora local), a noite dedicada a ritmos latinos na Pulse, principal boate gay de Orlando, se aproximava de seu fim, quando o DJ Ray Rivera, presença constante na programação do clube, ouviu o que pensou serem fogos de artifício na pista de dança. Poucos segundos depois, no entanto, Rivera entendeu o que acontecia. Armado com um fuzil AR-15 e uma pistola, Omar Mir Seddique Mateen, de 29 anos, disparava contra frequentadores, nos momentos iniciais daquele que se tornaria o maior ataque terrorista com armas de fogo na História dos EUA, superando a chacina no Instituto Politécnico da Virgínia, no qual o estudante Seung-Hui Cho abriu fogo matando 32 pessoas e ferindo outras 23, em abril de 2007.
? Ouvi barulhos, então abaixei o volume da música e vi pessoas correndo para todos os lados ? contou o DJ. ? Foi completamente caótico.
Rivera conseguiu se esconder em sua cabine e fugir da boate, assim como Christopher Hansen, que se mudou há dois meses para a Flórida e teve que engatinhar até a saída traseira do clube. Massacre em Orlando 12/06
? Ouvi o barulho dos tiros, mas cheguei a pensar que fizessem parte da música ? diz Hansen. ? Quando cheguei à rua, havia sangue por toda parte. Vi um homem caído e não tinha certeza se ele estava morto ou não. Tirei minha bandana e tentei estancar o sangue que saía do ferimento a bala em suas costas.
Mateen abriu fogo dentro da boate e trocou tiros com um segurança. Em algum momento ele saiu brevemente e retornou, mantendo frequentadores do clube como reféns. Foi feito um cerco e por volta das 5h a Swat ? o esquadrão especial da polícia ? usou um veículo blindado para arrombar as portas da Pulse, abater o atirador e libertar cerca de dez pessoas que permaneciam sob a mira de suas armas. Cerca de 20 minutos após os disparos iniciais, o terrorista ligou para a polícia, jurando lealdade a Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, e mencionando os irmãos Tsarnaev, responsáveis pelo atentado a bomba na Maratona de Boston de 2013. Antes de morrer, trocando tiros com policiais, o terrorista matou 50 pessoas e feriu outras 53.
Menos de dez minutos após o início do tiroteio, a página da Pulse no Facebook divulgou uma mensagem urgente, na qual instruía frequentadores a ?sair da boate e continuar correndo?. Horas mais tarde, Mina Justice, uma moradora de Orlando, revelou a troca de mensagens de texto com seu filho, Eddie, que se escondeu num banheiro durante o atentado. Ele a informava sobre o ataque à Pulse e pedia que ela chamasse a polícia, antes de afirmar: ?Ele está vindo. Vou morrer?.
Até a noite de domingo, a polícia de Orlando não havia conseguido informar se Eddie Justice estava ou não entre as vítimas do ataque à boate.
Localizado no nº 1912 da Avenida South Orange, a Pulse ocupa uma casa relativamente pequena numa rua repleta de lanchonetes e shopping centers, próxima ao centro e a menos de 30 quilômetros do complexo de parques de diversão da Disney. A boate é dividida em três ambientes, cada um deles com sua própria decoração temática e seleção musical. Vídeos gravados antes do ataque mostram frequentadores bebendo e se divertindo sob as luzes de neon ao som de reggaeton, merengue e salsa.
Luis Burbano, que também conseguiu escapar da Pulse logo após o início do tiroteio, conta que aproveitou o primeiro intervalo nos disparos para correr até porta, e no caminho viu funcionários e clientes escondidos num vestiário ?esperando por um milagre?. Do lado de fora do clube, Burbano ajudou a conter hemorragias de dois homens baleados, usando sua camiseta.
Medidas extremas
Entre 3h e 5h, policiais cercaram o clube e se comunicaram com Mateen, embora o conteúdo das conversas não tenha sido divulgado. Usando um blindado, a equipe de operações especiais da polícia abriu espaço, derrubando um pedaço da parede frontal e entrando no clube.
? Sempre que tivermos uma situação com reféns, definitivamente usaremos medidas extremas para garantir que tenhamos uma equipe de resposta à altura ? afirmou o chefe da polícia de Orlando, John Mina.
Mais de uma dezenas de policiais apontaram suas armas para Mateen, que disparou, atingindo o capacete de um agente. Um grupo de cerca de 20 pessoas tinha se escondido num cômodo, e o atirador mantinha outro grupo menor numa sala.
Ao lado de Mateen estava um pacote de baterias que os policiais temiam fazer parte de um artefato explosivo. Foi necessário o isolamento do local e o uso de um robô para que as autoridades pudessem examinar o local do crime. Enquanto isso, amigos e familiares de frequentadores do clube se amontoavam do lado de fora, em busca de informações.
?Estou assustado, nervoso e preocupado com todos aqueles que estavam na boate?, escreveu no Facebook Brian Reagan, gerente da Pulse, que estava na boate durante o ataque. ?Por favor, rezem. Isso não pode ser verdade?.