Cotidiano

Vantagens dos espaços de coworking que vão além do corte de despesas

RIO — A máxima de que as crises podem se tornar momentos de oportunidade tem sido repetida à exaustão diante do quadro adverso que a economia vem enfrentando. Mas em alguns espaços da Zona Sul ela tem ecoado como um mantra. No caminho difícil dos cortes de gastos, a ideia de não ter um escritório ou uma empresa com uma sede própria tem proporcionado experiências profissionais surpreendentemente positivas, possibilitando o aumento da produtividade. São os espaços de coworking, aliados de quem precisa economizar que têm se proliferado como nunca na região. Mas a questão principal está além das cifras. A prática se configurou como uma forma de trocar experiências e desenvolver trabalhos com empresas que podem compartilhar conhecimentos, vivências e clientes.

Quem confirma a eficiência desta relação de trabalho é a psicanalista Lorena Coutinho, focada em terapia de carreira. Para Lorena, o coworking está alinhado a uma visão de futuro, uma vez que o compartilhamento de custos proporciona uma economia sustentável. Mas, segundo ela, o ganho é maior porque a experiência oferece vantagens como a integração entre pessoas com perfis semelhantes:

— Existem profissionais que ficam isolados nas empresas e não compartilham estilos de vida e de trabalho. Estão juntos, mas estão sós. No coworking, você não está sozinho em questões como os desafios e a problemática profissional, pois os que estão ali têm estilos de trabalho muito parecidos, mesmo que sejam profissionais diferentes. Os grupos constroem políticas próprias em vez de se pautarem por práticas já estabelecidas — aponta.

Daniel Frazão, sócio-fundador da Casa XXvinte, na Rua Visconde de Carandaí, no Jardim Botânico, aponta esse pertencimento como uma das vantagens do espaço, que já tem uma filial na mesma rua.

— Quem vem para um espaço de coworking está pensando em economizar ou em ter acesso a uma estrutura e equipamentos, como um link dedicado de internet. Mas essa não é a parte mais legal. Tentamos mostrar o valor não material, que é o pertencimento a uma comunidade que faça sentido para o profissional e seu trabalho.

Para Frazão, isso auxilia o crescimento das empresas:

— A sensação de pertencimento é legal porque não é só uma fuga da solidão; é uma forma de trazer perspectiva. Vendo o seu negócio e os que estão em volta, é possível entender em que fase ele está e o que é preciso fazer para crescer — ressalta.

Na Casa XXvinte, a ideia de estar em grupo não faz com que as pessoas tenham dificuldades de encontrar um ambiente silencioso. Frazão explica que há a separação entre espaços privativos e áreas de convivência. Na hora de unir os profissionais, a casa aposta em reuniões informais, outro bônus do sistema de coworking. Entre elas, um tipo de stand-up em que as pessoas falam em um microfone sobre projetos que não deram certo.

TRABALHO BOM PARA TODOS

Outro coworking que aposta nos eventos desse formato é a Tribo, em Copacabana. A casa reúne profissionais de segmentos diferentes. O sócio Fabio Gatts aponta que há troca de experiências e desafios durante os encontros, além da chance de conhecer melhor o trabalho dos colegas.

— Há empresas com dúvidas jurídicas que consultam advogados que estão na Tribo. Uma roteirista já precisou de uma tradutora e produção de vídeo. Ela fez tudo com profissionais daqui — conta.

Essa também é a ideia da Casa Fazedoria, que chegou no início do ano ao Jardim Botânico.

— Temos profissionais com formações muito diferenciadas. Quando juntamos todo mundo, criamos soluções mais ricas do que teríamos trabalhando individualmente — diz Leo Eyer, designer e sócio-fundador do espaço.

Na Casa Fazedoria, assim com em outras casas de coworking, o compartilhamento de clientes é comum.

— Não tem aquela de “esse cliente é meu”. Se um cliente pede uma coisa que eu não faço, mas que outra empresa vai entregar, eu indico. E isso funciona muito bem com as empresas da casa. Acreditamos muito no fair trade, de ser bom para todo mundo. Para termos sucesso, é importante que todas as pessoas aqui sejam bem-sucedidas — explica Eyer.

Camila Coelho, dona da Wonderboom, empresa de consultoria empresarial, é uma das integrantes da Casa Fazedoria.

— Nós fazemos projetos para as empresas e trabalhamos com parceiros na hora de executar. No momento, estamos fazendo um site com outra marca da casa. Estar aqui também é bom porque não preciso me comprometer com o espaço a longo prazo, como num contrato de aluguel — diz Camila.

Para Herman Blesser, sócio-fundador do espaço Templo, em Botafogo e na Gávea, o coworking não é uma tendência, mas um espaço consolidado. Blesser aponta que houve um aumento considerável da procura pelo espaço depois da crise econômica:

— Este ano a demanda cresceu bastante. O coworking não é mais o futuro do trabalho, é o presente dele. É o ambiente propício a inovações e tendências que nos permitem desbravar as nossas fronteiras.