Cotidiano

Dilma atua pessoalmente para reverter impeachment no Senado

BRASÍLIA ? A presidente afastada Dilma Rousseff tem atuado pessoalmente para reverter o resultado do processo de impeachment no Senado. Ela já esteve com alguns dos senadores que cogitam mudar o voto no julgamento final e está animada com a possibilidade de voltar ao cargo. Interlocutores do governo afastado afirmam que a ideia é usar a instabilidade do governo interino de Michel Temer a favor de Dilma.

Enquanto na votação do processo de impeachment na Câmara ? aprovado por 367 deputados ? o ex-presidente Lula tomou a frente das negociações, transformando seu quarto de hotel em Brasília num verdadeiro “bunker”, onde recebia dezenas de parlamentares diariamente, dessa vez a própria petista resolveu liderar as articulações entre os senadores. Ela tem recebido parlamentares frequentemente no Palácio da Alvorada, de onde continua a despachar. Um grupo de petistas já esteve no Palácio duas vezes nesta semana.

Parlamentares do PT avaliam que o presidente interino está ajudando a acelerar o processo de reversão do resultado do impeachment. Isso se deve, segundo eles, ao estrago feito pelo vazamento das gravações feitas por Sérgio Machado com a cúpula do PMDB que atingiu a gestão Temer, entre os quais o senador Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, e Fabiano Silveira, ex-ministro da Transparência.

? Depois das gravações do Sérgio Machado, cresceu o sentimento de que o impeachment veio para parar as investigações da Lava-Jato, e isso está afetando diretamente no Senado. As confusões do governo Temer também ajudam. Acreditamos numa virada de votos para derrotar o impeachment. O Temer está nos ajudando muito ? disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

A aposta do governo afastado é usar os recuos e demissões do governo Temer para radicalizar o discurso de que o impeachment é golpe. Eles também avaliam que é crescente na sociedade, e entre os senadores, a percepção de que não houve crime de responsabilidade.

? A novidade da nossa pauta é a instabilidade, que gera a possibilidade real de o impeachment ser derrotado. Nesses 15 dias de governo, nós é que fomos vitoriosos ? disse o ex-ministro Miguel Rossetto.

Outros petistas avaliam que o discurso de “vitimização” de Dilma está sendo aceito pelos senadores e parte da sociedade. Eles afirmam que continuarão a explorar esse aspecto.

INTENSA AGENDA DE VIAGENS

Além do ânimo novo de retornar ao comando do país, Dilma também está preparando uma agenda intensa de viagens. Nesta quinta-feira, ela irá ao Rio, e, na sexta-feira, viajará para Porto Alegre. Já estão previstas também viagens para o Nordeste, região onde a aprovação aos governos petistas é recorde.

Enquanto os petistas avaliam que o quadro contra o impeachment melhorou no Senado, o grupo do presidente interino Michel Temer trabalha com um placar mínimo de 59 votos, dos 54 necessários para impedir a volta de Dilma Rousseff.

Segundo interlocutores de Temer, ao mesmo tempo que Dilma parece reverter um ou dois votos, o mesmo acontece com o presidente interino. Na votação em que o processo contra Dilma foi admitido, Renan Calheiros não precisou declarar voto porque estava na Presidência do Senado e outros dois peemedebistas, Jader Barbalho e Eduardo Braga também não votaram por questões políticas: Jader estava alinhado com Dilma por ter seu filho, Helder, como ministro, e Braga era ministro de Dilma. Agora, Braga voltou ao Senado e Helder continua ministro, só que na gestão Temer. Quanto a Renan, como não presidirá a sessão para dar lugar ao presidente do STF, Ricardo Lewandowski, terá que votar.

? Trabalho com um piso de 59 votos. Deixa ela (Dilma) telefonar para quem quiser ? disse um peemedebista que está acompanhando de perto o assunto.

O governo Temer acredita que conseguirá aprovar, nesta quinta-feira, o calendário de votação proposto pela senadora Simone Tebet, que prevê como 5 de agosto a data da sessão do impeachment.

Se houver reversão do quadro que os peemedebistas consideram consolidado pelo afastamento permanente de Dilma, não está no horizonte se antecipar à votação e partir de Temer o chamamento de uma nova eleição num acordo com os aliados.

? Se isso acontecer, é porque não tivemos capacidade de segurar o quadro favorável ao impeachment e aí não há clima para acordo. Temer terá que sair da cena política ? avaliou um auxiliar presidencial.