RIO – Ex-diretor da Biblioteca Nacional da Venezuela e autoridade na área do patrimônio histórico, Fernando Báez é um estudioso da aniquilação de livros. Nos anos 2000, causou polêmica ao denunciar a devastação de 10 milhões de documentos históricos e culturais durante a Guerra do Iraque. Em 2010, lançou no Brasil ?A história universal da destruição dos livros? (Ediouro), que recebeu elogios de Umberto Eco e Noam Chomsky. Em entrevista por e-mail, ele fala ao GLOBO sobre a possível destruição do encalhe da Cosac Naify no final do ano. Links Prosa 0110
O senhor é um crítico da prática das editoras de destruir encalhes. Por quê?
Os worst-sellers, os autores que não vendem, vão para o lixo ou são revendidos a preços risíveis para empresas que reciclam papel. É uma atividade suja, legal e lamentável. Condeno totalmente qualquer destruição de livros, porque o livro é o eixo da memória coletiva, uma tecnologia da memória que nos faz evoluir e nos conectarmos.
Mas, no caso específico de uma editora nos tempos atuais, o que fazer quando a preservação é inviável economicamente?
É inaceitável a destruição de exemplares por razões econômicas obscuras. As doações são complicadas, mas há centenas de bibliotecas que não possuem orçamento para novas aquisições. As alfândegas, por exemplo, destroem exemplares que não pagam impostos, e são milhares de obras aniquiladas, que poderiam ser doadas a colégios e universidades.
Como vê a possível destruição de parte do arquivo da Cosac Naify?
Peço que o mundo cultural reaja a tempo e não fique indiferente ao que está acontecendo. Em uma época em que o livro está em crise, não podemos permitir esse ato de biblioclastia.