Cotidiano

PT quebra tradição de 24 anos e fica sem candidato a prefeito de Salvador

SALVADOR – Com uma hegemonia de dez anos à frente do governo do Estado, o Partido dos Trabalhadores vive situação difícil – e paradoxal – em Salvador. Pela primeira vez em 24 anos, o PT não lançou candidato à prefeitura da capital baiana. Com exceção das eleições de 1992, quando a legenda apoiou a candidatura da hoje senadora Lídice da Mata (PSB), que concorria pelo PSDB e foi eleita, os petistas apresentavam um nome em Salvador desde a redemocratização do país. Apesar disso, e da força do PT no Estado – governado por Rui Costa desde 2015 e que elegeu Jaques Wagner para dois mandatos anteriores, derrotando a hegemonia carlista -, nunca um petista foi eleito para governar Salvador.

A situação, porém, é atípica quando se observa as decisões tomadas pelo eleitor baiano em eleições presidenciais. Nas duas vitórias do ex-presidente Lula (2002 e 2006) e nos dois mandatos para os quais se elegeu a ex-presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014), eles foram, de longe, os candidatos a presidente mais votados em Salvador.

Para o cientista político Paulo Fábio, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a dificuldade que o PT enfrenta não se resume à capital. Segundo ele, ciente de que não teria quadros competitivos para concorrer, tanto na capital como em outras cidades importantes da Bahia, o governador Rui Costa e outros petistas concentraram esforços para não perder espaço no Legislativo local, e investem nas eleições de vereadores. Para manter a força nas prefeituras, recorrem a candidatos de partidos da base, sobretudo ao PSD, que não tem a imagem tão vinculada ao PT.

? Eles tinham consciência da extrema improbabilidade de uma candidatura competitiva para a prefeitura e usaram a racionalidade de concentrar esforços para evitar grandes danos na bancada do Legislativo. E isso que está acontecendo em Salvador parece ser uma estratégia do governo estadual de reorientar, onde for possível, candidaturas para partidos da base ? disse o professor.

O presidente do PT da Bahia, Everaldo Anunciação, admitiu o vácuo de lideranças com competitividade para concorrer na capital. Ele afirma que os dois nomes que teriam chance de vitória, o ex-deputado Nelson Pellegrino – quatro vezes candidato ao cargo, sempre derrotado -, e o senador Walter Pinheiro – que concorreu em 2008 e também não teve sucesso -, não quiseram concorrer. Ele atribuiu ainda às novas regras eleitorais, que reduziram o tempo de campanha, como um dos fatores responsáveis pela ausência de candidato petista.

? Dos nossos nomes que tinham acúmulo na política, tanto o senador Walter Pinheiro como o deputado Nelson Pellegrino declinaram da possibilidade de ser candidatos. E é uma campanha curta, com muitas mudanças, isso também contribuiu. Construir um nome novo do PT para disputar custaria um capital político muito grande ? disse Anunciação.

Para o dirigente petista, outra explicação para a ambiguidade do eleitorado de Salvador é a dificuldade de líderes estaduais fortes, como Jaques Wagner, transferirem votos para nomes locais.

? Há ainda um vácuo na relação, que não consegue transformar o sentimento de simpatia com as nossas lideranças, como o Wagner e o Rui, em votos para lideranças locais.

Veja os candidatos que o PT lançou em Salvador desde 1985:

1985, primeira eleição direta depois da ditadura militar: o recém-criado PT lançou o professor Jorge Almeida, conhecido como “Macarrão”

1988: PT lançou Zezéu Ribeiro, ex-deputado e conselheiro do TCE

* 1992: Único ano em que o partido abriu mão de candidatura e apoiou Lídice da Mata, eleita naquele ano

1996: PT escolheu o deputado Nelson Pellegrino

2000: Novamente o candidato foi Nelson Pellegrino

2004: PT aposta de novo em Nelson Pellegrino

2008: PT lançou o senador Walter Pinheiro, hoje secretário de Educação do governo do estado

2012: Mais uma vez, PT lançou Nelson Pellegrino, que perdeu no 2° turno por apenas 94 mil votos

2016: Não lançou candidato e indicou a vice, Maria del Carmen, na chapa do PCdoB