WASHINGTON ? O republicano Donald Trump compartilhou em sua conta no Twitter os comentários de Juanita Broaddrick, mulher que em 1999 publicamente acusou o então presidente dos EUA, Bill Clinton, de tê-la estuprado duas décadas antes. Em sua página pessoal e em um vídeo recentemente gravado, ela reiterou emocionada as acusações contra o marido da candidata democrata à chefia da Casa Branca, Hillary Clinton. E o magnata, que enfrentará Hillary em um debate neste domingo, fez questão de dar visibilidade às declarações enquanto se vê envolvido em um escândalo pelo modo que se referiu às mulheres em um áudio gravado há onze anos.
“Quantas vezes será necessário dizer isso? Ações dizem mais do que palavras. Donald Trump disse coisas ruins! Hillary Clinton me ameaçou depois que Bill Clinton me estuprou”, disse Juanita, que depois complementou: “Hillary chama os comentários de Trump de ‘horríveis’ enquanto ela protege e vive com um ‘estuprador’. As ações de Hillary são horríveis.”
Depois do vazamento de um áudio em que Trump se gaba, com linguagem vulgar e palavrões, dos seus métodos para seduzir mulheres, o magnata prometeu investir em ataques contra o passado de Bill Clinton. E agora este já parece ser um dos seus primeiros passos neste sentido, poucas horas antes de um importante debate contra Hillary.
Assessor do republicano, Rudy Giuliani adiantou que ele deverá trazer à tona no debate o papel de Hillary em descredibilizar as mulheres que já acusaram seu marido de abuso sexual.
Quatro senadores republicanos anunciaram formalmente que não votarão no magnata depois do escândalo. O principal deles é John McCain, ex-candidato presidencial e que já se viu em confusão com Trump após o magnata não considerá-lo um herói de guerra (McCain foi feito prisioneiro no Vietnã).
“Pensei que fosse importante respeitar o fato de Trump ter vencido a maioria dos delegados pelas regras do partido. Mas seu comportamento nesta semana, incluindo seus comentários depreciativos sobre mulheres e sua ostentação sobre agressões sexuais, tornam impossível até dar apoio condicional a sua campanha”, condenou. “Escreverei na cédula o nome de um bom republicano conservador que seja qualificado para ser presidente.”
ABANDONO DE REPUBLICANOS
O ex-senador Mike Kirk pediu para o partido substituir Trump depois do escândalo. O ex-governador do Utah e ex-embaixador Jon Huntsman, disse que “chegou a hora de (Mike) Pence liderar a chapa”, pedindo que o candidato a vice do magnata assuma a função no lugar dele. Huntsman defendera o voto em Trump uma semana antes. Até o senador Ted Cruz, que recentemente deu apoio a Trump após ser derrotado por ele nas primárias republicanas, foi duro. “Estes comentários são perturbadores e inapropriados, e não há desculpa para eles. Toda mulher, mãe, filha – toda pessoa – deve ser tratada com dignidade e respeito”, disse em nota.
Sua ex-rival na disputa, Carly Fiorina, pediu que ele se retirasse da corrida. Nunca um grande partido americano substituiu seu candidato presidencial tão perto das eleições.
A direção de seu partido também fez críticas após a divulgação do áudio. “Nenhuma mulher deve ser descrita nestes termos ou ser alvo de comentários desta maneira. Nunca”, criticou duramente o presidente do Comitê Nacional Republicano, Reince Priebus.
O presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, disse que Trump objetificou as mulheres e, em resposta, decidiu abandonar um evento de campanha do candidato no Wisconsin, no sábado. O ex-candidato presidencial Mitt Romney atacou: “Dar em cima de mulheres casadas? Minimizar agressão? Essas degradações vis diminuem nossas mulheres e filhas e corrompem a imagem dos EUA para o mundo”, criticou pelo Twitter.
O vice de Trump, Mike Pence, emitiu um comunicado sobre o caso:
“Como marido e pai, eu fiquei ofendido pelas palavras e ações descritas por Donald Trump no vídeo de onze anos atrás divulgado ontem. Eu não desculpo seus comentários e não posso defendê-los. Eu sou grato que ele expressou remorso e se desculpou ao povo americano”, disse o republicano.
A mulher de Trump, Melania, disse que se sentiu ofendida pelos comentários “inaceitáveis e ofensivos”, mas pediu que os eleitores aceitem as desculpas.
“Isto não representa o homem que conheço. Ele tem o coração e a mente de um líder. Espero que aceitem a desculpa dele, como eu aceitei, e foquem em temas importantes que dizem respeito a nossa nação e ao mundo”, afirmou em comunicado.
Em uma tentativa de controlar os danos provocados pelo vazamento, Trump gravou uma mensagem de desculpas por vídeo, que foi divulgada pelas redes sociais. Ele argumentou que não é uma pessoa perfeita e o áudio, que já tem mais de dez anos, não reflete a pessoa que ele é.
? Eu estava errado e peço desculpas ? disse o magnata, que divulgou a mensagem de arrependimento em um vídeo. ? Nunca disse que era perfeito, nem pretendo ser uma pessoa diferente de quem eu sou. Me comprometo a ser um homem melhor amanhã, e não decepcioná-los jamais.
O candidato à Presidência dos EUA classificou a polêmica de distração eleitoral, uma vez que provocou uma onda de críticas na reta final da longa corrida à Casa Branca. E descartou a possibilidade de deixar a acmpanha eleitoral. Durante sua campanha, no entanto, ele se envolveu em uma série de polêmicas, em que foi acusado de xenofobia, machismo e racismo.