Cotidiano

Governo brasileiro quer maior integração da Abin com países do Brics

GOA (ÍNDIA) – Na tentativa de evitar que o Brasil entrasse na rota do terrorismo mundial ao sediar as Olimpíadas do Rio, o governo brasileiro trocou informações de segurança nacional com os demais países do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). De acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO, nas conversas reservadas na reunião anual dos chefes de Estado do grupo, neste fim de semana, o presidente Michel Temer proporá que o aprofundamento das relações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com os órgãos das demais nações para prevenir atos no país porque o governo brasileiro identificou uma radicalização de brasileiros recém-convertidos, ligados a correntes islamistas extremistas.

Na preparação das Olimpíadas, a Abin trocou informações bilateralmente com vários países como França e Estados Unidos – os dois mais afetados recentemente por grandes ataques terroristas. O governo ainda negocia um acordo com os Emirados Árabes, segundo uma alta fonte confirmou ao GLOBO.

Agora, a Abin pediu ao Palácio do Planalto que aprofundasse esse intercâmbio com o Brics. Um primeiro passo foi dado: foi criado um grupo de trabalho antiterrorismo. A primeira reunião foi realizada há pouco menos que um mês, em Nova Délhi.

Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, o diretor do Departamento para Assuntos de Defesa e Segurança (DDEFS), Embaixador Nelson Antonio Tabajara de Oliveira, disse que é preciso ter cooperação para enfrentar grandes desafios. Citou o caso dos “lobos solitários” e ainda o do recrutamento de combatentes terroristas estrangeiros. Lembrou da Operação Hashtag, que prendeu suspeitos de atos preparatórios de terrorismo durante os Jogos Olímpicos.

Já o diretor de Contraterrorismo da Abin, Luiz Alberto Sallaberry, no mesmo encontro, ressaltou novos desafios relacionados à radicalização de brasileiros recém-convertidos, ligados a correntes islamistas extremistas. Informou que os órgãos de inteligência e segurança brasileiros estão atentos para esse novo fenômeno. Circularam na imprensa internacional, por exemplo, o caso de dois brasileiros que foram recrutados na Espanha e na Bélgica.

O Brasil tem um cuidado de – sempre ao tocar nesse assunto – deixar claro que extremismo é uma rara exceção na grande comunidade islâmica no país. Não quer criar nenhum tipo de preconceito em relação à religião. Por isso, o assunto é discutido nos mínimos detalhes.

Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, a própria comunidade muçulmana no Brasil é um impedimento para que esse tipo de terrorismo se alastre. Os riscos são menores que em outros países porque a comunidade islâmica é bem inserida socialmente no Brasil. Em outros países (como a França, por exemplo) há guetos.

Em relação ao terrorismo, a posição do Brasil é que o uso da força não é capaz de erradicar, por si só, o terrorismo. É preciso inteligência. Para o governo brasileiro, além disso, o combate ao terrorismo deve se dar em estrita observância do direito internacional, em especial, da Carta das Nações Unidas, do direito internacional dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e do direito internacional dos refugiados.

Pela lei do Brasil, o governo pode, por exemplo, deixar os bens indisponíveis de indivíduos e entidades associados ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda. Uma mais recente ainda tipifica o crime de terrorismo, trata de disposições investigatórias e processuais e reformula o conceito de organização terrorista.

Na reunião dos Brics, uma saia justa em relação ao assunto é esperada. Nas conversas preliminares – em nível diplomático – a China discordou da iniciativa indiana de incluir no texto da ?Declaração de Goa? a questão da Caxemira. O lado chinês não quer tocar no assunto porque a Índia vincularia as disputa territorial com o Paquistão com o tema do terrorismo.