Cascavel e Paraná - O aumento dos casos de raiva nos municípios da região Oeste voltou a acender o alerta no Estado. Nos últimos meses, os focos da doença cresceram em bovinos e equinos. A doença é transmitida principalmente pela mordida de morcegos hematófagos, o que levou a Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) a deflagrar uma força-tarefa. A mobilização reúne médicos-veterinários, técnicos de campo, lideranças rurais e produtores, com ações concentradas em municípios que apresentaram maior vulnerabilidade.
Segundo a Adapar, a prioridade é intensificar a vacinação do rebanho e reforçar medidas de prevenção, já que a raiva não tem cura e representa risco também à saúde humana. Além do prejuízo econômico causado pela morte de animais, a doença figura entre as mais graves zoonoses do mundo.
“Elaboramos uma estratégia de atuação direta nas propriedades, conversando com os produtores, vacinando os animais e monitorando possíveis abrigos de morcegos. A raiva exige vigilância constante e uma resposta rápida para que não se espalhe”, explica Elzira Pierre, chefe da Divisão de Raiva dos Herbívoros e médica-veterinária da Adapar, em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná.
Um Desafio
Embora obrigatória, a vacinação contra a raiva em bovinos, bubalinos, equinos, muares, caprinos e ovinos ainda encontra resistência em algumas localidades, seja por desconhecimento, seja por descuido. Para mudar esse cenário, a força-tarefa tem visitado comunidades rurais, promovendo palestras e oferecendo apoio técnico.
“É fundamental que o produtor entenda que a vacina é a única forma de proteger o rebanho. Uma vez que o animal apresenta sintomas, não há tratamento possível. Estamos falando de salvar vidas e também de preservar a segurança da cadeia produtiva”, reforça Elzira.
A médica-veterinária lembra que a doença se manifesta com sinais neurológicos, agressividade ou paralisia, levando invariavelmente à morte do animal. O diagnóstico, no entanto, só pode ser confirmado por exames laboratoriais.
A ameaça silenciosa dos morcegos
A presença de morcegos hematófagos, transmissores do vírus, é outro foco da operação. Equipes especializadas da Adapar percorrem áreas de mata, rios e edificações abandonadas em busca de colônias. Quando localizados, os abrigos recebem tratamento específico para controle populacional, seguindo normas ambientais que evitam desequilíbrio ecológico.
“Os morcegos fazem parte do ecossistema, mas aqueles que se alimentam de sangue podem transmitir a raiva. O trabalho precisa ser técnico, cuidadoso e contínuo, porque se trata de uma zoonose de alta letalidade”, destaca a chefe da Divisão.
A recomendação é que produtores notifiquem imediatamente a Adapar ao encontrar morcegos em abrigos incomuns, como telhados, forros ou construções desativadas. Essa informação ajuda a mapear os pontos críticos e direcionar a atuação das equipes.
Prejuízos ao campo
O impacto econômico da raiva preocupa autoridades e lideranças rurais. Cada animal perdido representa não apenas o valor do indivíduo, mas a quebra de um ciclo produtivo que envolve leite, carne e genética. Em propriedades de pequeno porte, uma morte pode significar comprometimento significativo da renda familiar.
Além disso, a imagem do Paraná como estado produtor de proteína animal de qualidade também depende da sanidade do rebanho. Por isso, a campanha contra a raiva é considerada estratégica para a economia agropecuária regional.
A força-tarefa envolve, além da Adapar, sindicatos rurais, cooperativas e secretarias municipais de agricultura. A intenção é somar esforços para ampliar a cobertura vacinal e conscientizar a população sobre a gravidade da doença.
“Temos obtido uma resposta positiva dos produtores, que estão cada vez mais atentos à necessidade de vacinar. Mas ainda precisamos avançar para alcançar índices ideais e garantir tranquilidade para toda a região”, observa Elzira.
As ações incluem distribuição de material educativo, atendimento em propriedades, treinamentos para técnicos e a instalação de pontos de apoio em localidades estratégicas. O trabalho também conta com parcerias em universidades, que colaboram em pesquisas e na análise de amostras enviadas ao laboratório oficial.
Orientações à população
Além do rebanho, a raiva pode atingir seres humanos. Pessoas expostas à mordida de animais doentes ou de morcegos devem procurar imediatamente atendimento médico para receber a profilaxia adequada. A vacinação preventiva para cães e gatos, promovida anualmente pelos municípios, também integra a rede de proteção contra a doença.
“Eliminar a raiva exige um esforço coletivo. O produtor precisa vacinar, a comunidade deve estar atenta aos sinais e o poder público segue com o monitoramento. É uma corrente de proteção que só funciona quando todos participam”, conclui Elzira Pierre.
Com a intensificação das ações, a expectativa é que o número de casos seja reduzido nos próximos meses. A Adapar reforça que continuará presente na região Oeste, acompanhando de perto a evolução da doença e promovendo campanhas de conscientização.
A força-tarefa, segundo os técnicos, já é considerada um modelo que poderá ser replicado em outras regiões do Paraná, caso surjam novos focos. O objetivo é garantir que a raiva seja controlada e que a produção agropecuária do estado siga segura, saudável e competitiva.
Vacinação obrigatória em 30 municípios da região
A vacinação contra a raiva passou a ser obrigatória em 30 municípios do Oeste do Paraná desde quinta-feira (25). A medida, oficializada pela portaria nº 368/2025 da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), abrange herbívoros domésticos com idade a partir de três meses, incluindo búfalos, bois, cavalos, asnos, mulas, ovelhas e cabras.
De acordo com o Departamento de Saúde Animal (Desa) da Adapar, a escolha dos municípios considera fatores como a quantidade de focos registrados nos últimos anos, a proximidade com o Parque Nacional do Iguaçu, a ocorrência de áreas compartilhadas de transmissão e o elevado número de pessoas que precisaram de tratamento após contato com animais suspeitos.
Em 2024, o Paraná confirmou 227 focos de raiva, sendo mais da metade nos escritórios regionais de Cascavel e Laranjeiras do Sul. Até setembro de 2025, já foram contabilizados 166 focos em 41 municípios. Do total de focos, 81 são da mesma região.
“A raiva é uma zoonose que preocupa porque pode ser transmitida dos animais para as pessoas. A portaria estabelece o prazo de seis meses para que os rebanhos sejam vacinados, justamente como medida preventiva. É sempre preferível vacinar e prevenir do que enfrentar depois os prejuízos e riscos de um foco da doença”, explica Otamir Cesar Martins, diretor-presidente da Adapar.
Para o chefe do Departamento de Saúde Animal (Desa) da Agência, Rafael Gonçalves Dias, a medida é necessária diante dos focos registrados na região Oeste nos últimos anos. “Temos registros recorrentes da doença e áreas de difícil controle do morcego hematófago, o que aumenta o risco para os rebanhos e para a saúde pública. A vacinação é a forma mais eficaz de proteger os animais e reduzir os impactos para produtores e comunidades” reforça.
Estão na lista os municípios de Boa Vista da Aparecida, Braganey, Campo Bonito, Capanema, Capitão Leônidas Marques, Cascavel, Catanduvas, Céu Azul, Diamante D’Oeste, Foz do Iguaçu, Guaraniaçu, Ibema, Itaipulândia, Lindoeste, Matelândia, Medianeira, Missal, Planalto, Pérola D’Oeste, Quedas do Iguaçu, Ramilândia, Realeza, Rio Bonito do Iguaçu, Santa Lúcia, Santa Tereza do Oeste, Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Serranópolis do Iguaçu, Três Barras do Paraná e Vera Cruz do Oeste.
Neste momento em que a portaria estabelece a obrigatoriedade da vacina, a Adapar aproveita para intensificar a conscientização na região. Entre os dias 29 de setembro e 2 de outubro (segunda a quinta-feira da próxima semana), Cascavel e municípios vizinhos recebem o projeto “Adapar Educa à Campo – Enfrentamento Contra a Raiva dos Herbívoros”, que mobiliza produtores, médicos veterinários estudantes e agentes públicos.
A programação prevê palestras em escolas, encontros com sindicatos, visitas técnicas a comunidades rurais e ações de orientação direta aos produtores, com foco na biosseguridade e na vacinação dos rebanhos. Cerca de 40 servidores da Adapar se deslocarão até a região para fazer a mobilização.