Cascavel e Paraná - Há poucas décadas, quando se falava em mulher no campo, surgiam muitos preconceitos. A visão predominante era de alguém que ajudava nas tarefas diárias e cuidava da casa e dos filhos. Mas esse cenário mudou. Cada vez mais presentes nas atividades e nos negócios, as mulheres — que de frágeis não têm nada — tornaram-se muitas vezes o braço direito da propriedade ou até protagonistas de uma nova história.
Márcia Daga é produtora e mora no distrito de Sede Alvorada, entre Cascavel e Toledo. Há 33 anos tira do solo o sustento e os frutos que ajudaram a construir sua família. Mãe de dois filhos, ficou viúva há 13 anos e, de um dia para o outro, precisou compreender todo o sistema da propriedade, que vai muito além de plantar e colher.
“Eu trabalhava na Coopavel e sempre tive contato com o agronegócio, mas apenas acompanhava meu marido. Quando ele faleceu, tive que assumir os negócios”, lembra Daga. Foi então que passou a frequentar o Cooperelas, a cooperativa de mulheres cooperadas da Coopavel, que na época se reunia para participar de cursos e atividades de artesanato, culinária e outras áreas.
Força da tecnologia
O avanço da tecnologia transformou o mercado e também o formato do grupo de mulheres, que passou a ter novas demandas. “Na propriedade planto soja e milho e, há três anos, percebemos a necessidade de mudar o formato dos trabalhos. Começamos a levar mais informação e conhecimento para o grupo, como administração da propriedade, liderança financeira e gestão das culturas em geral”, relata.
Para a produtora, essa mudança reflete a realidade dentro da propriedade: antes os negócios eram administrados apenas pelo marido e a mulher ficava sempre em segundo plano. Hoje, mesmo sem a mesma força física, o papel feminino ganhou peso, pois, com a tecnologia, a verdadeira força está na vontade de fazer acontecer.
“Cooperativa delas”
No Cooperelas, todas as sócias podem participar e são convidadas a se envolver em encontros e eventos organizados pela cooperativa. Integrante da comissão, Márcia acredita que as mulheres fazem diferença nesse processo de inserção no agronegócio, seja por meio de palestras, troca de experiências, visitas técnicas ou atividades de capacitação.
No dia 18 de setembro, cerca de 50 mulheres participaram do Encontro Lideranças Femininas, uma iniciativa que uniu inspiração, empoderamento e troca de experiências em um dia de imersão. Sob o tema Conexão que move: mulheres que inspiram, a programação foi marcada por momentos de interação e reflexões sobre o protagonismo feminino na transformação do mercado de trabalho e da sociedade.
A diretora administrativo-financeira do Itaipu Parquetec, Clerione Herther, destacou que o encontro foi planejado para promover inspiração e conexão entre as participantes. Para ela, a conversa é essencial para valorizar “a nossa força, a nossa união, trocar ideias e também nos sentirmos representadas, já que conciliar vida profissional e pessoal é uma realidade de muitas mulheres”.
Durante o encontro, ocorreu o painel Mulheres que movem mundos, que reuniu convidadas da Coopavel e do Parque para compartilhar histórias e trajetórias. “Temos nossas famílias, nossos filhos e, ao mesmo tempo, escolhemos construir uma carreira. É importante conversar sobre isso, trocar experiências e nos apoiar mutuamente. Este é um dia para falarmos de nossas vidas, desafios e conquistas”, completou a diretora.
As cooperadas também participaram de uma visita panorâmica à Itaipu Binacional, conduzida por uma motorista e uma guia mulheres, reforçando o protagonismo feminino e a ideia de que a mulher pode ocupar qualquer profissão que desejar.