BERLIM E CIDADE DO MÉXICO ? O discurso nacionalista e protecionista de Donald Trump na posse desta sexta-feira gerou reações mistas entre líderes mundiais. Políticos e chefes de Estado com visões ideológicas alinhadas à do novo presidente dos EUA manifestaram apoio. Na América Latina, origem de boa parte dos fluxos migratórios combatidos por Trump, houve felicitações tímidas, acompanhadas por avisos cautelosos.
Lideranças da Europa, por sua vez, fizeram críticas e mostraram preocupação quanto ao tom adotado por Trump. O vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, destacou que o discurso teve ?tons fortemente nacionalistas?, antes de defender que os europeus devem se unir em defesa dos seus valores.
? O que ouvimos hoje foram altos tons nacionalistas ? disse Gabriel em entrevista à TV estatal ZDF, lembrando que Trump ?foi extremamente sério?, o que significa que deve seguir suas promessas sobre protecionismo. ? Acho que temos que nos preparar para um percurso difícil. A Europa e a Alemanha devem estar unidas para defender nossos interesses.
‘AMÉRICA PRIMEIRO’
Em sua conta no Twitter, o mexicano Peña Nieto garantiu que vai procurar um ?diálogo respeitoso? com o homem que deixou muitos de seus cidadãos furiosos ao iniciar a campanha eleitoral descrevendo os mexicanos que cruzam a fronteira como ?estupradores? e ?traficantes de drogas?.
Em nota, o novo governo americano disse nesta sexta-feira que Trump continua comprometido com a construção de um muro na fronteira entre os dois países. Mas, como as medidas não foram citadas em seu discurso de posse, a Bolsa mexicana fechou com ligeira alta ontem.
Confira o discurso de posse de Donald Trump nos EUA
?A soberania, o interesse nacional e a proteção dos mexicanos guiarão a nossa relação com o novo governo dos EUA?, escreveu o chefe de Estado mexicano no Twitter.
Da Bolívia, Evo Morales ? um ferrenho crítico de Washington ? expressou sua esperança de restabelecer relações com o governo americano ?respeitando a soberania e dignidade de nosso povo?. Os dois países tiveram as relações afetadas em 2008, quando Morales expulsou o embaixador americano de La Paz.
A família Trump na cerimônia de posse
? Tomara que o novo presidente acabe com as intervenções e as bases militares no mundo para garantir a paz com justiça social ? alfinetou Morales, em referência a Barack Obama.
Evitando polêmicas, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que espera trabalhar com Trump para ?restaurar a prosperidade da classe média nos dois lados da fronteira?.
? O Canadá e os EUA construíram uma das relações mais próximas entre dois países no mundo ? lembrou.
FALTA DE ABRANGÊNCIA
Alguns líderes sentiram faltam de um discurso mais abrangente. Anders Fogh Rasmussen, ex-chefe da Otan e agora conselheiro do presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, afirmou que esperava que Trump se voltasse para questões internacionais durante a cerimônia:
? Como presidente dos Estados Unidos, ele também deveria perceber que se tornou o líder do mundo livre. Por isso, pessoas de todo o mundo estavam assistindo seu discurso de posse. Esperava que ele focasse a liderança global americana. Mas, em vez disso, o que tivemos foi um pronunciamento antiestablishment, muito orientado domesticamente.
Já em Israel e na Rússia, o clima era de comemoração. Um dia antes da posse, políticos, analistas e ativistas russos comemoravam em um prédio de Moscou com champanhe. Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ? que nos últimos anos teve desentendimentos com o ex-presidente Barack Obama ? afirmou que espera que a aliança de seu país com os EUA seja ?mais forte do que nunca?.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, por sua vez, preferiu se esquivar das controvérsias ? Trump insinuou que pretende transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém. Na TV, Abbas felicitou o presidente e disse que estava ?ansioso para trabalhar com ele em prol da paz, segurança e estabilidade?.
EXTREMISTAS COMEMORAM
A ala mais conservadora dos políticos europeus também celebrou a mudança de governo. No Twitter, Nigel Farage, líder da legenda de extrema-direita UKIP ? e articulador da saída do Reino Unido da União Europeia ? zombou de Obama em uma foto em que se despedia do americano. E elogiou o discurso de Trump:
?A revolução política genuína teve lugar nos Estados Unidos?, escreveu.
Protestos contra Trump pelo mundo
Já o presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, parabenizou Trump, acendendo a polêmica contra a China ? que não reconhece o país.
?A democracia é o que une Taiwan e os Estados Unidos, esperamos avançar na nossa amizade e parceria?.
Até o Papa Francisco se manifestou. Após o discurso de Trump, ele felicitou o novo presidente dos Estados Unidos e disse que rezará para que Deus lhe dê ?sabedoria e força?. Ele pediu que Trump não se esqueça dos ?pobres, marginalizados e necessitados?.
?Rezo para que suas decisões sejam guiadas pelos ricos valores espirituais e éticos que formaram a história do povo americano?, escreveu o Pontífice em mensagem divulgada pelo Vaticano.