Cascavel e Paraná - US$ 1,3 bilhão. Esse é o montante que o Brasil poderá deixar de faturar no segundo semestre deste ano, caso a sobretaxa de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, entre os quais a carne bovina, se confirme a partir de 1º de agosto. A informação é da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos). Se a medida persistir nos próximos anos, as perdas anuais podem chegar a US$ 3 bilhões.
As exportações brasileiras de carnes e subprodutos bovinos para os Estados Unidos somaram US$ 1,287 bilhão no primeiro semestre deste ano, quase o dobro do registrado no mesmo período de 2024, com alta de 85,4% no volume embarcado. Os principais itens vendidos foram cortes de carne bovina desossados congelados, sebo, carnes enlatadas e carnes frescas ou refrigeradas. Juntos, esses produtos impulsionaram a balança comercial do setor e reforçaram a relevância do mercado americano para a indústria brasileira.
No entanto, as projeções da Associação Brasileira de Frigoríficos apontam que a taxação anunciada pelo governo de Donald Trump pode gerar um aumento entre 111% e 384% no valor dos impostos pagos por tonelada destes produtos, o que tornaria inviável a continuidade das vendas ao mercado norte-americano. O impacto direto seria uma retração nas exportações e um prejuízo relevante para a balança comercial do Brasil, em um momento em que o setor vinha registrando resultados expressivos.
Para o presidente da Abrafrigo, Paulo Mustefaga, a taxação americana afetará essa cesta de produtos, e não só a carne bovina em si. Há uma preocupação especial com o sebo bovino, cujos embarques para os EUA representam quase 100% do mercado atual. Para calcular o impacto total, a entidade considerou o preço médio de exportações desses itens, volumes e receitas obtidos nos últimos seis meses, e simulou a aplicação das tarifas de 50% no restante de 2025 e nos anos seguintes.
No caso das carnes desossadas, frescas, refrigeradas ou congeladas, a Abrafrigo destaca que o Brasil integra uma cota global de 65,8 mil toneladas, compartilhada com outros países. No entanto, apenas no primeiro semestre de 2025, os frigoríficos brasileiros já embarcaram quase 150 mil toneladas para os Estados Unidos — volume 2,5 vezes superior à cota permitida. Isso demonstra que a maior parte das vendas já é realizada com o pagamento da tarifa extracota. Para produtos como carne em conserva e sebo bovino, não há limites de cotas tarifárias.
Tarifa extracota
Atualmente, a carne desossada congelada exportada para os EUA paga uma tarifa extracota de US$ 1,78 mil por tonelada, o que equivale a 36% do preço médio FOB. Com a nova tarifa adicional de 50%, esse custo subiria para US$ 3,75 mil por tonelada, representando uma alta de 111%. Nesse cenário, a tarifa final corresponderia a 76% do valor da carga, o que, na avaliação da Abrafrigo, tornaria as exportações economicamente inviáveis.
Por sua vez, no caso do sebo bovino fundido, a tarifa passaria de US$ 151 por tonelada para US$ 583, alta de 286%. O valor representaria 54% dos preços médios. Em relação às preparações alimentícias e conservas bovinas, a tarifa sairia de US$ 1 mil por tonelada para US$ 5,1 mil por tonelada, alta de 384%, equivalente a 50,4% dos preços médios.
As novas tarifas, na visão de Mustefaga, vão incidir sobre os preços finais dos produtos, impedindo a comercialização. Diante desse cenário, a expectativa de exportar mais US$ 1,3 bilhão nos seis meses finais de 2025 pode não se concretizar. Se o ritmo das exportações fosse mantido em 2026, a projeção do setor seria vender ao menos US$ 3 bilhões aos EUA, considerando os mesmos patamares de preços. “Quem paga essa tarifa é o importador. Ele não consegue colocar a carne congelada brasileira com 76% do seu valor em impostos, que teriam que ser repassados aos consumidores”, disse Paulo Mustefaga. Com isso, alguns importadores americanos já pediram para os frigoríficos suspenderem a produção. Quase 60 estabelecimentos são habilitados a exportar carne bovina e derivados aos EUA hoje.
15% da receita
No acumulado deste ano, os EUA representam quase 15% das receitas obtidas pelo Brasil com as exportações de carnes desossadas congeladas, resfriadas ou enlatadas. Em relação ao sebo, os americanos representaram 99,6% do faturamento obtido na exportação. “A carne industrializada e o sebo bovino são muito representativos. A carne enlatada tem poucos mercados alternativos, e os EUA são muito importantes”, disse Mustefaga. Segundo ele, o preço pago pelo produto é um diferencial. “Eles pagam mais de US$ 10 mil por tonelada, cerca de 40% a mais que outros destinos”. A inviabilização das vendas aos EUA pode afetar outros mercados onde os americanos têm influência, como o México e o Canadá. Para o dirigente, os prejuízos podem ser ainda maiores.