RIO – O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, afirmou nesta sexta-feira que o país precisa “tratar” a diferença entre os juros do crédito direcionado, mais barato, e aqueles das modalidades de financiamento tradicionais. Em aula inaugural na FGV/EPGE, Goldfajn fez uma analogia comparando o créditos subsidiado à meia-entrada do cinema, afirmando que “no Brasil, todo mundo busca privilégios”, mas ele “é pago por quem não os têm”. Ele observou que os créditos subsidiados representavam 34% do sistema financeiro em 2007 e hoje estão em 50%.
– Um dos pontos que eu queria colocar é a ideia da meia-entrada. No Brasil, todo mundo procura um privilégio. Se alguém consegue esse privilégio, é o outro que tem que pagar. Por sinal, privilégios são pagos por aqueles que não os têm. Isso acontece, na nossa economia, em todas as áreas. O sistema financeiro brasileiro tem hoje metade do crédito direcionada. Ou seja, ela não é à taxa de mercado. Ou seja, todos os esforços para se reduzir os juros valem apenas para a outra metade do sistema. Nós temos que resolver as duas coisas, mas para isso temos que olhar o cinema como um todo – explicou.
No evento, Ilan Goldfajn, presidente do BC, criticou economistas que consideram juro real alto.
Os créditos direcionados englobam os empréstimos do BNDES, o crédito rural e o financiamento habitacional. De acordo com números apresentados por Ilan, essas modalidades pagam menos de 4% acima dos juros básicos da economia, enquanto o crédito com recursos livres (acessado pelas famílias, por exemplo) fica quase 40% acima. Além de trabalhar para reduzir as taxas do crédito tradicional, também é preciso “tratar” o baixo patamar dos juros do crédito direcionado, disse o presidente do BC – evitando usar o verbo “elevar”.
– A margem, isto é, o quanto está acima da taxa básica de juros, é de 3,8 no crédito direcionado. A dos recursos livres é 39,8%. Na média, temos 22,5%. Não conseguimos viver com essa dicotomia por décadas. Isso tem que tratar. Baixar o que está em cima (recursos livres) e tratar também o que está em baixo (crédito direcionado) – afirmou Goldfajn.
ILAN DEFENDE AUTONOMIA DO BC EM LEI
Questionado pela plateia, Goldfajn defendeu que a autonomia do BC seja instituída em lei.
– Eu acho que a autonomia é importante. Hoje nós já temos uma autonomia “de facto”. O BC tem toda a liberdade para usar seus instrumentos. O que não temos é uma autonomia “de jure” (na lei). Nós deveríamos trabalhar no Brasil para ter. Obviamente o “de facto” é bem relevante, mas estar na lei é bastante importante porque sedimenta o que já acontece – afirmou o presidente do BC.