“Nasci na Carolina do Norte, EUA. Comecei a estudar na infância música tradicional irlandesa. Toquei com bandas de vários
gêneros por EUA, Canadá, Irlanda, França e África. Vim ao Rio de férias, em
2014. Conheci minha namorada e me apaixonei por ela e pela música brasileira, especialmente pelo choro.”
Conte algo que não sei.
Música é uma linguagem, tal qual um idioma. Podemos
aprender qualquer gênero de música com as mesmas técnicas usadas para aprender
uma língua estrangeira. Quando aprendemos uma língua, começamos a desenvolver um
vocabulário. No mesmo sentido, podemos buscar as ?palavras? de um estilo
musical, ou seja, as frases e figuras mais comuns naquele estilo. As melodias
são compostas de várias dessas palavras, como orações de uma língua.
Você é um músico que diz empregar o Princípio de Pareto, uma
teoria econômica, no trabalho. Como faz isso?
O Princípio de Pareto é a ?regra do 80-20?. Diz que 80%
dos efeitos vêm de 20% das causas. Isso quer dizer a maioria dos resultados vem
de uma fração do trabalho. Então, em vez de tentar aprender todas as palavras de
uma língua e a gramática, o melhor é começar com os 20%, que constituem 80% de
toda a fala. Com essa visão, desenvolvi um treinamento para ouvir os aspectos
mais comuns do choro e, assim, aprender esse gênero com mais rapidez.
De que forma se aplica isso à nossa vida prática?
Ao adquirir habilidade ou conhecimento em algo novo, em
vez de tentar aprender tudo, ou seja, a ?quantidade? da informação, concentre-se
na ?qualidade?. Por ?qualidade? quero dizer apenas as partes mais úteis
primeiro.
Dá para aprender o choro assim?
Para explicar, basta comparar com o meu aprendizado do
português. Como aprendi num ambiente em que precisava do idioma para me virar, o
mais importante era a comunicação. Reparei que a maioria da fala construía
variações das mesmas frases e palavras (os 80%). E fui aprendendo esses
elementos para fazer as coisas de que precisava no dia a dia. Da mesma forma, no
choro, há certos padrões e elementos de ?sotaque? que são igualmente
onipresentes.
Existe um modo padrão de tocar?
Um exemplo seria o jeito de tocar o pandeiro. Um toquezinho diferente e já é
samba. Em vez de aprender todas as notas da melodia (que é o instinto do
violinista), comecei por focar só no ritmo, para garantir que estivesse tocando
certo.
O que encontrou de mais singular no choro?
A ?malandragem?, ou a brincadeira com a melodia, algo
que eu nem seria capaz de reparar até recentemente. Precisou de muito estudo. Ao
ouvir a primeira vez, parece só uma variação, mas variações, para mim,
significam coisas pré-escritas. A beleza do choro é que a execução da melodia
pelo chorão sempre fica cada vez mais diferente. É essa antecipação de ?quando?
e ?como? que faz a brincadeira. É uma coisa que nem é linguística, mas reflete a
espontaneidade da comunicação em si, seja musical ou não.
Qual é a sensação de dominar a língua portuguesa?
No início, eu dependia das mesmas 20 frases e palavras
e, honestamente, enjoei rapidamente. Com a confiança para improvisar na língua,
veio a segurança na roda, quando chega a hora da terceira parte e todo mundo
olha para você tirar um solo.
Qual é o ritmo no mundo mais parecido com o choro?
No jazz moderno, brincamos constantemente com novos
ritmos. Às vezes, ouço algo nesse contexto que parece meio
?chorístico/brasileiro?, mas, aí, penso: ?Puxa, eles devem ter escutado bastante a música
brasileira!?