Cotidiano

Kim Geun-tae, artista plástico: 'Países que tratam bem os deficientes lideram o mundo'

201609061843018641.jpg“Sou pintor e desenho deficientes mentais. Faço isso há 24 anos.
Quando era criança, devido ao meu problema de audição, não ouvia e não falava
muito bem, também tinha a visão comprometida. Meus pais não cuidavam muito de
mim, e meus colegas me isolavam. Eu me sentia solitário, então comecei a
desenhar.”

Conte algo que não sei.

Crianças deficientes mentais são
anjos para mim. Um dia, estava dormindo e comecei a sonhar com crianças com
síndrome de Down que eu conheço. No sonho, elas tentavam me acordar. Então,
acabei despertando de fato e vi que minha casa estava pegando fogo. Essas
crianças me salvaram; o sonho mostra que elas cuidam de mim.

Por que decidiu pintar somente deficientes mentais?

No começo, desenhava paisagens e,
depois, parei de trabalhar na escola e fui para Paris estudar arte. Comecei a
pensar o que deveria retratar em minhas pinturas, voltei para a Coreia do Sul e
passei a desenhar pessoas solitárias. Idosos, pessoas sós no metrô, mendigos,
órfãos. Depois fui para uma ilha onde moram somente deficientes mentais e
comecei a pintá-los.

Fale mais sobre essa ilha.

Antigamente, na Coreia, a
sociedade não aceitava deficientes mentais. Essas crianças eram abandonadas
pelos pais. Então, muitas delas que não tinham onde morar eram levadas para lá.
As pessoas na Coreia achavam que deficientes mentais eram um fardo. Hoje, a
situação melhorou. Os direitos humanos estão mais disseminados no país. As
pessoas têm mais interesse nos deficientes, e o governo coreano tem contribuído
bastante.

Lá ainda há preconceito em relação aos deficientes?

Ainda existe preconceito. Mas, os
religiosos, principalmente, têm se envolvido na causa e estão se esforçando para
promover direitos humanos para essas pessoas. O governo tem tentado tomar
medidas que ajudem na inclusão delas. Mas, por exemplo, só há pouco tempo
passamos a ter ônibus adaptados para deficientes. Antes, os coreanos escondiam
as pessoas com deficiência.

Em termos de inclusão de deficientes, é possível comparar a Coreia
com o Brasil?

Faz pouco tempo que estou no
Brasil, não conheço tão bem o país. Mas, pelo que vi, aqui, por exemplo, a
maioria dos ônibus é adaptada para promover acessibilidade a deficientes. Já
estive em outros países, como Estados Unidos e Alemanha, e não vi isso. Acho que
no Brasil as pessoas pensam mais nos deficientes que em outros países.

O fato de o país ter sediado a Paralimpíada pode contribuir para
promover mais políticas voltadas às pessoas com deficiência no
futuro?

Os países que tratam bem os
deficientes lideram o mundo. O Brasil acaba demonstrando sua preocupação com o
tema a partir do momento que me chama para expor minha arte aqui. Esse é um bom
exemplo para outros países. Seria ótimo se houvesse uma Paralimpíada cultural
também. Veríamos que, com investimento em arte e promoção da inclusão dessas
pessoas, os deficientes podem surpreender o mundo em vários campos.

Como promover o empoderamento dessas pessoas?

As pessoas têm preconceitos porque
consideram que os deficientes são incapazes, atrasados, mas, na realidade, não
são. Eles têm a mente pura e a maioria deles tem super-habilidades em alguns
campos, como arte, música, ciência. Podemos auxiliá-los a identificar
habilidades e a desenvolvê-las. Quando morava nessa ilha, ensinei crianças a
desenhar, a copiar minhas pinturas, e fiquei assustado com a capacidade delas.
Acho que se estivermos abertos a essas pessoas podemos ajudar a esclarecer o
mundo. Quero fundar uma escola de arte para deficientes mentais. Vou economizar
o dinheiro que arrecado com a venda de minhas peças.