Nos últimos dias, o velejador João Rodrigues contou a quem quisesse escutar sobre o dia em que ele viu um atleta irlandês cair em prantos por causa dos Jogos Olímpicos. Era sua primeira experiência olímpica: Barcelona, 1992. Agora, no Rio, 28 anos depois, foi sua vez de chorar ao encerrar a mais longa história de Portugal em Olimpíadas. Vela – 12.08
As sete participações nos Jogos fizeram de João Rodrigues um ícone do esporte em Portugal. Aos 44 anos, ele acumula mais de 50 títulos internacionais. Por isso, foi escolhido para carregar a bandeira do país na cerimônia de abertura no Maracanã, há uma semana.
Rodrigues chegou ao Rio consciente da discrepância entre seu desempenho e o dos adversários da classe RS:X, a prancha a vela. Sonhava com uma participação na regata das medalhas, a última da competição, que reúne apenas os dez melhores. Nesta sexta-feira, viu sua chance escapara por um triz: ficou em 11o, dois pontos atrás do espanhol que conquistou a vaga.
? Eu tentei tudo hoje. Foi meu melhor dia, mas não deu. Foi por uma unha. Faz parte do jogo ? afirmou o português.
O resultado não abateu o português, mas a emoção sim. Ao deixar o mar e encontra a prancha, o velejador foi recebido pelos companheiros de equipe e pelos adversários da flotilha. O chefe da delegação de Portugal, José Garcia, foi à Marina da Glória cumprimentar o atleta. Cercado por jornalistas portugueses, ele interrompeu a entrevista várias vezes sem conseguir conter as lágrimas:
? É um momento muito feliz porque, realmente, valeu a pena ter feito tudo para chegar aqui. Foi uma vida cheia de significado e que acaba de uma forma muito bonita, em um lugar extraordinário, que fala português, e junto de muitos bons amigos. Portanto, acho que era a melhor forma de terminar.
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Desde que chegou ao Rio, o velejador faz questão de dizer que só decidiu disputar a sétima Olimpíada porque ela seria sediada no Brasil. Rodrigues está acostumado à cidade. Passou os últimos verões entre o Rio e Búzios, cidade do amigo Ricardo Winicki, o Bimba, que representa o Brasil no RS:X.
? Agora quero férias. Longas férias ? diz Rodrigues, ao ser questionado sobre os planos para o futuro.
Ainda assim, Rodrigues não está preparado para deixar para trás os Jogos Olímpicos. Em meio à celebração por encerrar seu ciclo na Olimpíada do Rio, ele se preocupa na continuidade da prática da vela em Portugal. Quer ver um sucessor nos Jogos de Tóquio, daqui a quatro anos.
? Acho que as próximas gerações têm que descobrir o seu caminho, o seu trajeto. Este foi o meu. Eu gostaria que não só o meu mas o de todos os portugueses que estão aqui (no Rio) inspirassem a mais gente a praticar esportes e lutar para ir aos Jogos Olímpicos. Isso seria um tributo que fariam ao nosso trabalho de tantos anos ? pede. Conheça todos os esportes olímpicos da Rio-2016
Os demais velejadores portugueses não hesitam em citar Rodrigues como exemplo.
? Quando o João disputou a primeira Olimpíada eu nem conhecia o que era vela. Eu nem sequer sonhava em disputar os Jogos. Ele é um atleta fenomenal. Anda na prancha, que é uma classe muito física. E aos 44 anos, quase entra na regata das medalhas. Imagina a capacidade e o sofrimento do atleta que ele tem. E isso aliado à boa pessoa e ao bom ambiente que ele transmite. É espetacular. E é uma referência para toda Portugal ? avalia o velejador José Costa, da classe 49er, que estreou na Olimpíada nesta sexta.