SÃO PAULO – A inclusão financeira, além de propiciar maior acesso da população aos meios de pagamento à população, também pode servir como uma forma de aumentar a arrecadação de impostos dos governos que estimulam esses programas. O vice-presidente global da Mastercard, Michael Fiore, defende que quando você dá ferramentas que possibilitem acesso financeiro aos clientes sem conta em banco, como a distribuição de benefícios sociais por meio de cartões ou a criação de contas de pagamento pré-pagas em celulares, há uma redução na informalidade e até mesmo da lavagem de dinheiro, aumentando a receita com tributos.
? Há uma quantia elevada de recursos que o governo não consegue atingir. Por outro lado, os criminosos amam dinheiro (numerário) porque você não pode rastrear esse dinheiro. Mas quando você torna ele eletrônico, é possível aumentar as receitas com impostos e reduzir a lavagem de dinheiro e a economia informal. São muitos benefícios na inclusão financeira ? disse.
O espaço para impulsionar esse tipo de serviço de inclusão é elevado. No mundo todo, a estimativa é que 85% das transações financeiras sejam feitas com dinheiro. No Brasil, segundo o último levantamento do Banco Central, o dinheiro ainda é responsável por cerca de 70% dos pagamentos feitos no país. Mesmo nas economias mais desenvolvidas, como o Reino Unido, o uso de meios eletrônicos não ultrapassa metade do total das transações.
É por esse potencial de crescimento que até mesmo uma economia em recessão, como a brasileira, é vista com uma grande oportunidade de negócio para as empresas de meio de pagamento.
? Quando a economia está muito boa, você aumenta o uso de cartões pré-pagos, porque pode ter mais incentivos corporativos (aos trabalhadores). Em caso de recessão, há um maior volume de pagamentos de seguro desemprego e benefícios sociais. Então é uma oportunidade em prestar esse serviço em um modo seguro ? afirmou Fiore.
PARCERIA COM OPERADORAS DE CELULAR
No Brasil, a Mastercard tem dois projetos de inclusão financeira que utilizam os celulares. Uma é a Zuum, que já tem cerca de 620 mil contas cadastradas (crescimento de 50% em 12 meses,) e a outra opção é o Tim Multibank Caixa, lançado no ano passado e que possui cerca de 50 mil usuários. Nos dois casos, o celular vira um meio de pagamento. Os valores atrelados a essas contas pré-pagas funcionam como uma “carteira virtual” e os recursos podem ser utilizados para transferências a outras contas, pagamento em estabelecimentos que aceitem a bandeira ou até mesmo saque em caixas eletrônicos.
A meta da bandeira de cartão é incluir 500 milhões de pessoas até 2020 no mundo todo, sendo que mais de 150 milhões já passaram a contar com alguma solução da empresa de meio de pagamento. No entanto, não há metas individuais para os países.
Fiore lembra que a inclusão financeira não é um assunto restrito a países em desenvolvimento. Lembra que, nos Estados Unidos, 70 milhões de pessoas não possuem conta corrente.
? Para começar com a inclusão financeira, primeiro temos que começar de onde o dinheiro vem, que são os pagamentos do governo e os empregadores privados. São os lugares que temos que alcançar primeiro quando estamos construindo um programa de inclusão financeira. Depois, o mais importante, é atingir os lojistas. Precisa ser uma forma fácil de usar e que faça sentido econômico ? explicou, acrescentando que saber a peculiaridade de cada país, como cobertura de telefonia celular, também é outro fator determinante.
Na expectativa da empresa, o Brasil tem a chance de acelerar o uso de celular como meio de pagamento a partir da expansão da tecnologia de NFC (Near Field Communication, que é o pagamento por aproximação) nos aparelhos móveis.