Cotidiano

Michael Moore ataca novamente com o documentário 'Trumpland'

trumpland.png RIO e NOVA YORK ? Na indústria fonográfica, lançamentos-surpresa são prática comum. No cinema, nem tanto. Muito menos quando se trata de um dos documentaristas contemporâneos mais populares. Mas foi exatamente o que Michael Moore, vencedor do Oscar por ?Tiros em Columbine? (2002), acaba de fazer. Sem aviso prévio, uma sessão no IFC Center, icônico cineteatro de Nova York, exibiu, anteontem, ?Michael Moore in Trumpland?.

O formato do novo documentário é bastante diferente das obras anteriores do cineasta, assumidamente contrário a Donald Trump. Trata-se de uma performance solo filmada, um stand-up do próprio diretor feito cerca de duas semanas atrás para uma plateia de uma casa de shows em Wilmington (Ohio), cidade em que o candidato republicano recebeu quatro vezes mais votos do que Hillary Clinton nas primárias. ?Lá é a Trumplândia?, comparou Moore na abertura da sessão, numa referência ao título do longa. ?Não quis fazer isso num lugar seguro, mas onde eu precisasse de muita segurança. O que eu tive.?

Não existem trailers do filme, mas, segundo relatos de quem esteve presente no IFC Center, ele consiste num discurso em que Moore supõe o que se daria caso cada um dos candidatos à Presidência assumisse a Casa Branca.

No longa, ele avisa que ?homens brancos com mais de 35 anos estão ultrapassados? no século XXI (?Os caras sabem disso, e é por isso que eles estão presentes nas convenções de Trump?, ironiza). Sobre as mulheres, diz que ?elas não inventaram uma bomba atômica ou de hidrogênio. E nenhuma garota entrou numa escola atirando. Seja lá do quê vocês têm medo, não pode ser de alguém que use um vestido?. Em outras palavras, é uma crítica à misoginia, característica que, segundo detratores de Trump, aparece com frequência em seus discursos.

Em outra cena, uma montagem com trechos de reportagens de TV argumenta o que pode acontecer caso Donald Trump seja eleito: ataques aéreos em cidades mexicanas na fronteira com os EUA; o surgimento de um canal de TV comandado pelo ex-presidente da Fox News; a deportação da atriz e comediante Rosie O?Donnell para a Samoa Americana (Rosie é uma notória opositora de Trump), entre outras coisas. Em seguida, Moore apresenta um segmento a favor de Hillary Clinton: de que a candidata democrata seria capaz de estimular o progresso pelo ?bem maior? dos EUA.

Michael Moore tem um histórico de filmes políticos. Um dos mais memoráveis foi ?Fahrenheit 11 de setembro?, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em que argumentava que o governo Bush usou a tragédia nas Torres Gêmeas para justificar as guerras no Afeganistão e no Iraque.

?Michael Moore in Trumpland? não recebeu críticas muito positivas. A revista ?Variety? compara o tom do filme a uma ?bomba furiosa?, mas que acaba se tornando uma ?granada que não explode totalmente?. Já o jornal ?New York Times? afirma que Moore fez uma séria campanha pró-Hillary, mas pouco divertida. E o ?Hollywood Reporter? lamenta: ?É uma palestra cinematográfica provavelmente incapaz de fazer alguém mudar de ideia?. O filme entra em cartaz, nos próximos dias, em alguns cinemas dos EUA.