RIO – O Partido Pirata, de inspiração libertária e de esquerda, pode acabar na liderança do Parlamento islandês. Projeções dão conta de que a sigla ficou em segundo lugar nas eleições legislativas do sábado, com 12 assentos, mas com melhores condições de formar um governo de coalizão do que Partido da Independência (direita, envolvido no escândalo dos Panama Papers). A Islândia experimentará a terceira grande virada política desde 2009, com os eleitores optando pela alternância. Links Islândia
As assembleias de voto abriram às 9h (7h de Brasília) em Reykjavik. Apenas um turno de votação não é suficiente para alcançar uma maioria e, apenas depois de negociações, surgirão as novas forças políticas do país. Os Piratas, atrás do Partido da Independência (direita), mas à frente do movimento Esquerda-Verde, poderiam, pela primeira vez, dar as cartas. Liderada pela ativista do WikiLeaks Birgitta Jonsdottir, esta formação heterogênea selou um acordo pré-eleitoral com três partidos de oposição de esquerda e de centro (Esquerda-Verdes, social-democratas e Futuro Brilhante) para formar um governo de coalizão.
? Estes partidos podem cooperar muito bem, eles têm muito em comum. Esta será uma escolha do governo bastante viável ? explicou a presidente do Esquerda-Verdes, Katrin Jakobsdottir, possível futura primeira-ministra.
Tradicionalmente, o presidente islandês confia ao líder do partido que vence a votação a tarefa de negociar uma coalizão, mas o aliado do Partido da Independência, o Partido Progressista, conta com apenas 10% dos votos. Desta forma, o chefe de Estado poderia optar diretamente pela aliança anunciada pelos Piratas.
Para Birgir Armannsson, deputado do Partido da Independência, que, com o Partido do Progresso (centro-direita) governa o país desde 2013, a sanção das urnas é, sem dúvida, dada ao “sentimento anti-establishment” que prevalece na Islândia.
Esta rejeição aos partidos tradicionais tem suas origens na crise financeira de 2008 e com o escândalo dos Panamá Papers que derrubou em abril o primeiro-ministro David Sigmundur Gunnlaugsson (Partido do Progresso), cujo nome estava em uma lista de 600 titulares islandeses de contas offshore.
Se a Islândia, ilha de 332.000 habitantes, se recuperou economicamente (mais de 4% de crescimento previsto para este ano, graças ao turismo e a um sistema financeiro reestruturado), os islandeses, especialmente os mais jovens, continuam a nutrir grande desconfiança em relação as elites do país.