Cotidiano

Nos bastidores do debate, temas de São Paulo ficaram em 2º plano

SÃO PAULO – No primeiro debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo, os temas da cidade ficaram em segundo plano nos bastidores do evento. O que mais se comentou, na verdade, foram o figurino esportivo de um dos candidatos, o tom pausado das falas de outro e o pé quebrado de uma marqueteira.

— Ele adotou o visual do Shopping JK Iguatemi (shopping elegante de São Paulo) — brincou o coordenador da campanha de Celso Russomanno (PRB), Marcelo Squassoni, referindo-se à combinação inusitada do tucano João Doria, que abandou o terno e preferiu jaqueta, sapatênis e uma calça skinny.

Ao ser indagado na chegada sobre o seu visual fora dos padrões da política, o tucano disse:

— Deixei em casa. Estou aqui vestido do mesmo jeito que eu faço campanha.

Entre os apoiadores de Doria e do prefeito Fernando Haddad (PT) o motivo das ironias foi a forma lenta como Russomanno falou no debate.

— Ele exagerou no calmante — disse um tucano na plateia.

— Na verdade, ele deixou de tomar o remédio — provocou um petista.

Com a perna direita engessada, a marqueteira de Haddad, Angela Chaves, se valeu de uma espécie de patinete para acompanhar o candidato no debate. O aparelho mantinha a perna lesionada suspensa e permitia que ela fosse até o púlpito do petista para passar orientações no intervalo. Angela quebrou a perna poucos dias antes do início da campanha.

A humildade da candidata Marta Suplicy (PMDB) ao reconhecer ter sido um equívoco a criação de taxas quando prefeita de São Paulo, o que deu a ela o apelido de “Martaxa“, também foi motivo de brincadeiras.

— Ela está muito paz e amor. No começo de campanha é assim mesmo — comentou um tucano.

Quase houve uma saia-justa antes do início do debate. Andrea Matarazzo, vice de Marta que deixou o PSDB durante as prévias contra Doria e se tornou seu desafeto, quase cruzou com o candidato do PSDB na entrada.

Matarazzo engatou um conversa com jornalistas para não passar pelo local onde o tucano dava entrevistas.

CHALITA ORGULHOSO

Mas na plateia dentro do estúdio, os encontros entre adversários foram inevitáveis. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um pouco sem graça, acabou cumprimentando o presidente nacional do PT, Rui Falcão, ao passar pelo corredor onde o petista estava sentado. Já o vice de Haddad, Gabriel Chalita (PDT), se orgulhava do bom trânsito entre os representantes das diferentes legenda.

— Viu como o pessoal do PMDB fez festa para mim? Todo mundo me tratou bem: o governador (Geraldo Akcmin), o Márcio França (PSB, vice-governador) — celebrava Chalita, que nos últimos sete anos passou pelo PSDB, PSB e PMDB antes de transferir em março para o PDT.

Apesar do clima quente entre os candidatos, os aliados pouco se manifestaram durante os embates. Uma das raras exceções aconteceu quando o público riu de forma irônica quando Haddad afirmou que São Paulo não vê mais mortes de motoqueiros em suas ruas por causa da redução da velocidade máxima permitida na cidade.

— Cale a boca — gritou o secretário de Transportes da prefeitura, o petista Jilmar Tatto, para os simpatizantes dos demais candidatos. Poucos ouviram e a discussão não teve prosseguimento.

O presidente estadual do PTB, Campos Machado, marido da vice de Russomanno, Marlene Machado, aproveitou os intervalos para chamar a atenção dos petistas para a postura de Major Olímpio (Solidariedade) em relação a Doria (PSDB).

— Está com cara de aliança — disse Machado, lembrando que quando era deputado estadual Olímpio era um crítico feroz da política de segurança pública do governo estadual.

Para o presidente petista Rui Falcão, Machado mostrou que ainda não superou a forma como a sua mulher foi descartada por Marta para o posto de vice. A candidata do PMDB rompeu a aliança com o PTB quando recebeu o apoio de Andrea Matarazzo.

— Foi traição. Não avisaram nem uma vírgula. Nada. Se eu não corresse (para fechar com Russomanno) ficaria na mão — lamentava.