SÃO PAULO – A crise econômica não poupou nem o bilionário mercado de aviação executiva brasileiro. As vendas de novas aeronaves no mercado interno despencaram 40% entre 2014 e 2015, considerando o faturamento das empresas, segundo Leonardo Fiuza, novo presidente do conselho da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag). O Brasil possui atualmente a segunda maior frota de aviação geral do mundo, com 15.290 unidades, atrás apenas dos Estados Unidos. Considerando apenas jatos, o Brasil é o terceiro maior mercado mundial.
No primeiro semestre deste ano, a retração continuou, mas a expectativa é que no segundo semestre as vendas tenham um desempenho mais positivo e sejam impulsionadas pela realização da 13ª edição da Latin American Business Aviation Conference & Exhibition (Labace), feira de aviação executiva, que acontece em São Paulo de 30 de agosto a 1 de setembro.
– Há uma clara retração das vendas e maior do que se esperava. Entre 2014 e 2015 elas encolheram 40% e se o ano de 2016 terminasse em junho passado haveria uma retração de mais 40% em relação a 2014. De julho para cá vimos uma melhora e a expectiva é que o segundo semestre seja mais aquecido – disse Fiuza.
De acordo com dados da Abag, entidade responsável pela organização da Labace, mesmo com a queda de vendas a frota da aviação geral brasileira cresceu 1,1% entre 2014 e 2015, chegando a 15.290 unidades, considerando jatos, helicópteros, aviões agrícolas, entre outros. Fiuza explica que este movimento se deve ao longo ciclo de venda de uma aeronave, considerando desde a produção até a entrega. Portanto, o crescimento da frota em 2015 ainda é reflexo de negócios fechados um ano antes, diz Fiuza.
– Na crise tudo encolhe: o número de empregos, o resultado das empresas, as vendas. Só não encolhe o tamanho do Brasil. Por isso, nossa expectativa com base em crises passadas, é que assim que a economia melhore, os clientes voltam a comprar porque têm a necessidade de se deslocar pelo país – disse Fiuza, destacando que o setor de agronegócio traz clientes para turbo-hélices como o King Air e a piora do trânsito de São Paulo ajuda a vender mais helicópteros.
O presidente do Conselho da Abag afirmou que, quando a economia americana cresce, os Estados Unidos compram entre 60% e 70% de todas as aeronaves novas produzidas no mundo. Esse volume encolheu depois da crise de 2008, mas já começa a ser retomado. Assim como vem acontecendo no mercado de automóveis, as vendas de aeronaves usadas no mercado interno estão mais aquecidas, já que o preço cai.
De acordo com a Abag, com o aprofundamento da crise econômica em 2015 provocando a desvalorização do real frente ao dólar no ano, o valor da frota brasileira recuou de US$ 12,7 bilhões para US$ 12,1 bilhões no período, uma queda de 5%.
Não foram divulgados números sobre a expectativa de negócios a serem fechados na Labace já que muitas conversas começam no evento e o negócio só acaba sendo fechado tempos depois. Para este ano, espera-se o mesmo número de visitantes do ano passado, cerca de 10 mil pessoas. Estarão em exposição 130 marcas e 43 aeronaves no aeroporto de Congonhas, zona Sul de São Paulo.
– Nos últimos três ou quatro anos tem havido uma diminuição de aeronaves na Labace, o que facilita o acesso do público, a visitação e as vendas, não só de aviões, mas também de serviços e atendimento. Mesmo quando a economia estiver maravilhosa, acredito que o número de aeronaves expostas não deve passar de 50 – diz Ricardo Nogueira, vice-presidente da Abag.
Também por causa da crise não há a expectativa de que muito modelos novos sejam apresentados, e as empresas devem trazer as mesmas aeronaves apresentadas ano passado. A expectativa é que seja apresentado um avião experimental, que ainda espera autorização para pousar em Congonhas.
Os dirigentes da Abag destacaram que a crise fez aumentar o número de empresas que venderam suas aeronaves no exterior. Com isso embolsaaram o dólar em alta e engordaram o caixa em reais.
– Num momento delicado de crise, as aeronaves sao exportadas, vendidas no exterior e os valores, convertidos em reais, voltam para reforçar o caixa das empresas – afirmou.
Ele acredita que ainda é cedo para dizer que o mercado de aviação executiva está reagindo, já que é diretamente ligado à economia do país. Mas, assim como Fiuza, ele diz que há possibilidde de melhora até o fim do ano.
– Mas só o ano de 2017 será mais tranquilo – afirmou.