RIO – Era um dia típico de começo de aulas: grupos estudantis montavam mesas para atrais novos membros para fraternidades, clubes e organizações religiosas. Até chegar na última fileira, onde centenas de pessoas se reuniam para pegar brinquedos sexuais de graça.
O evento desde quarta-feira, batizado de “Picas, não pistolas”, foi um protesto quanto a nova lei de porte de armas do estado americano do Texas, que permite que alunos e professores levem armas para dentro dos campi. O protesto foi exatamente de alunos, professores e funcionários da Universidade do Texas em Austin, que tem liderado as manifestações contra a nova lei.
O protesto foi realizado numa avenida no coração do campus sob a torre onde, em agosto de 1966, Charles Whitman, um aluno de engenharia, atirou e matou 17 pessoas. Foi o primeiro massacre em um campus universitário americano.
“Nos temos leis malucas aqui, mas essa é a mais louca: você não pode trazer um consolo para o campus, mas pode trazer a sua arma. Estamos tentando lutar contra o absurdo com o absurdo”, diz Rosie Zander, uma estudante de história de 20 anos, ao jornal britânico The Guardian.
A nova lei, aprovada no ano passado pela legislatura estadual, dominada pelo Partido Republicano, passou a valer no aniversário de 50 anos do massacre. Permite que proprietários de armas com mais de 21 anos portem pistolas na maioria dos locais públicos das universidades, inclusive salas de aula e dormitórios.
Os manifestantes levantam os brinquedos, os sacodem no ar, os prendem nas mochilas. E também em outros lugares.
“Queríamos um protesto divertido, com o qual os pessoas pudessem se envolver. É difícil se envolver com o processo político na nossa idade, os jovens tendem a não votar ou se envolver. Aqui é mais fácil: vista um consolo e mostre aos deputados do Texas que você não está feliz com a decisão deles”, diz Zander.
Ao lado de uma pilha de caixas vazias, a estudante diz que a campanha distribuiu mais 5 mil brinquedos em cinco dias, todos doados por sex shops locais. Ao lado dos manifestantes com cartazes cheios de trocadilhos, uma placa avisa que é proibido fumar no campus.
O movimento associando e satirizando a permissão para carregar armas, mas não brinquedos sexuais começou em 2015, quando Jessica Jin, fez o primeiro protesto. Até hoje os consolos e vibradores são proibidos no campus por uma regra do século XX e uma lei estadual contra a exibição de “itens obscenos”.
Os manifestantes também querem questionar os padrões da cultura texana de carregar uma arma é normal. Jin disse a multidão nessa terça-feira que se sentiu observada quando foi fazer compras com um cartaz da campanha e um brinquedo presos na mochila, mas que eles “devem lidar com o desconforto, com os olhares estranhos, porque esse é jeito que temos que olhar para quem sai por aí com uma arma”.
Uma questão com vários lados
Os defensores da lei dizem que ela irá ser aplicada apenas a um número pequeno de portadores de armas, proprietários responsáveis que querem utilizar seu direito constitucional como americanos e terem direito à defesa.
Já os críticos dizem que é a medida tem a oposição da vasta maioria dos estudantes e funcionários, assim como policiais; terá um efeito paralisante na liberdade de expressão no campus (“Quem vai discutir em sala com um aluno errado mas armado?”); tem mais chance de reduzir a segurança do que aumentar, especialmente porque a maioria dos alunos são jovens sob estresse; pode causar um “dreno de cérebros” no estado, com professores prestigiados e bons alunos preferindo universidades fora do estado; e afirmam que a lei não teria sido um pedido do público, mas uma iniciativa dos políticos para ceder ao poderoso lobby das armas.