PARIS ? Numa tentativa de combater o Islã radical, o governo socialista francês expulsou 15 imãs pelo discurso extremista até agora neste ano ? sendo seis somente em agosto ? e ordenou o fechamento de 20 mesquitas nos últimos meses. Em outra frente, o Executivo inicia nesta segunda-feira um debate sobre o Islã na França, a segunda religião do país e que suscita controvérsias depois dos atentados extremistas, com o objetivo de fique ?mais enraizado no valores da República?.
A controvérsia política cresceu com a proibição em algumas praias francesas do uso de burquíni (traje de banho para mulheres islâmicas). Mas os dirigentes muçulmanos esperam que a série de reuniões com o governo permita atenuar as tensões.
? Este episódio positivo colocará um ponto final na novela repugnante do burquíni ? declarou Anouar Kbibech, presidente do Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM), principal instância representativa dos quatro milhões de muçulmanos no país.
Para o ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, o objetivo do debate ?é fazer emergir de maneira voluntária, em respeito ao laicismo, diálogo e respeito mútuo, um Islã francês mais integrado nos valores da República?.
Será realizada uma série de reuniões com dirigentes culturais, personalidades da sociedade civil e parlamentares para lançar os fundamentos da futura ?Fundação para o Islã da França?.
A organização do evento foi acelerada depois do atentado de Nice, em 14 de julho, que provocou 86 mortos, e o assassinato de um padre católico degolado na Normandia por extremistas, em 26 de julho.
Devido à rígida separação entre Estado e cultos religiosos no país, em conformidade a uma lei que data de 1905, a ?Fundação para o Islã da França? só tratará de questões seculares, como educação, pesquisa, formação cívica etc.
O capítulo religioso da busca de financiamento (formação teológica dos imãs, construções de mesquitas…) estará nas mãos de uma associação cultural administrada por representantes muçulmanos, da qual o Estado francês não fará parte.
A França, que integra a coalizão militar internacional contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e Iraque, foi atingida em 2015 e 2016 por inúmeros atentados extremistas, incluindo o ataque que matou 130 pessoas em Paris, em dezembro do ano passado.