RIO ? Na esteira da discussão sobre apropriação cultural e hiperssexualização do corpo negro no carnaval, o resultado de um concurso de fantasias de Recife intensificou a luta contra os estigmas associados à etnia. Desta vez, a produtora Padrão Carvalheira, responsável pelo baile anual Carvalheira Fantasy, entregou o prêmio de melhor traje a dois homens que se fantasiaram de negros. Com o rosto pintado de marrom, toalhas nos ombros e uma reprodução de um órgão genital exagerado colocada no meio das pernas, os vencedores foram criticados logo depois por reproduzirem o estereótipo sexual dos homens negros. Internautas acusaram de racismo a dupla e a produtora e a plateia que os aplaudiu, em postagem de um blog recifense que repercutiu o resultado do concurso.
Na publicação, usuários consideravam ?ridícula? a vitória da dupla, questionavam por que os dois não haviam sido eliminados da competição e apontavam a desumanização dos negros, reduzidos na fantasia a um órgão genital de características generalizadas. Argumentavam que a fantasia, longe de ser criativa, representava um ?black face? ? prática racista que se utiliza da estigmatização do corpo do negro para piadas. ?Os Negões vencedores do nosso concurso agradecem!?, ressaltava na postagem a produtora, que identificou os vencedores como Edgar Paiva Junior e Rodrigo e os premiou com uma viagem a Fernando de Noronha.
Entre as críticas ao resultado do concurso, ganhou força a hashtag #racismopadraocarvalheira, em alusão ao nome da produtora e do marketing do baile de apresentar as mais criativas fantasias. ?Nunca vi nada de mais mal gosto… Horrível. Acho que perderam a noção do que é uma fantasia. É brilho, alegria, colorido, sem perder a irreverência. Péssimo?, comentava uma internauta. Outros pontuavam o que consideravam um absurdo, de ainda em 2017 haver quem premie e aplauda brincadeiras que flertam com o racismo. ?Corpo negro não é fantasia!?, reforçavam outros. A minoria dos comentários elogiava o traje e criticava o posicionamento ?politicamente correto? da maioria.
?Entramos para vencer o concurso e fomos ovacionados pela maioria esmagadora. As pessoas que se sentiram enojadas fiquem em casa no carnaval e continuem votando no BBB. Deve ser bem inteligente, né?, rebateu um dos vencedores, Edgar Paiva Junior, na publicação.
O GLOBO entrou em contato e aguarda posicionamento oficial da Padrão Carvalheira.
RACISMO NO ‘BLACK FACE’