RIO ? O ensino de ciências no país está longe de poder ser considerado adequado. Segundo dados do relatório Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês), o desempenho do estudante brasileiro na disciplina está entre os piores dos 70 países avaliados, com nota média de 401, à frente apenas da República Dominicana, Argélia, Kosovo, República da Macedônia, Tunísia, Líbano e Peru. A média entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pela aplicação exame, foi de 493.
? O desempenho em ciências não é descolado do todo ? avaliou Débora Foguel, professora do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e membro da Associação Brasileira de Ciências. ? A verdade é que o Brasil, com respeito à qualidade da educação, vai mal em tudo. Estamos muito aquém do que deveríamos, do que a gente precisa.
O Pisa é um exame trienal, que avalia o desempenho de estudantes com 15 anos nas disciplinas de ciências, leitura e matemática. Em ciências, as provas são aplicadas desde 2006. Em relação à primeira avaliação, o Brasil apresentou melhora relevante, de 11 pontos, mas em relação às duas últimas edições, o resultado ficou praticamente estável, com ligeira queda (405, em 2009, e 402, em 2012).
Entre os estados, as notas variaram entre Alagoas, com o pior resultado, com média de 360 pontos; e Espírito Santo, com média de 435 pontos. O Distrito Federal ficou em segundo, com 426 pontos; e o Paraná, em terceiro, com 425. O Rio de Janeiro foi o pior estado da Região Sudeste, na 15ª posição no ranking nacional, com nota média de 392.
Mas o dado que mais chama atenção sobre a situação calamitosa do ensino de ciências no Brasil é sobre os níveis de conhecimento. O Pisa possui uma escala com sete níveis para ilustrar o conhecimento dos alunos. No mais alto, com nota acima de 708 pontos, os estudantes são capazes de ?recorrer a uma série de ideias e conceitos interligados da física, das ciências da vida, da Terra e do espaço, bem como usar conhecimentos de conteúdo, procedimentais e epistemológicos para formular hipóteses?.
Apenas 0,02% dos estudantes brasileiros alcançaram esse nível, contra percentual médio de 1,06% dos países da OCDE. A grande maioria (81,96%) ficou no nível 2 ou abaixo (notas inferiores a 483). De acordo com a descrição do Pisa, com nível 2 os estudantes ?conseguem recorrer a conhecimento cotidiano e a conhecimento procedimental básico para identificar uma explicação científica adequada, interpretar dados e identificar a questão abordada em um projeto experimental simples?.
Além disso, 56,6% dos estudantes ficaram abaixo do nível 2, considerado pela OCDE como o mínimo para a proficiência científica ?necessária para o indivíduo se envolver em questões científicas como um cidadão crítico e informado. Espera-se que todos os alunos atinjam esse nível quando abandonarem os estudos obrigatórios?.
O nível que concentrou mais estudantes brasileiros foi o 1a (um abaixo do nível 2, com 32,37% dos total), no qual eles ?conseguem usar conhecimento de conteúdo e procedimental básico ou cotidiano para reconhecer ou identificar explicações de fenômenos científicos simples?. Além disso, 4,38% dos alunos avaliados tiraram nota abaixo de 261, o nível mínimo descrito pelo Pisa.
Para Débora, o resultado ruim no desempenho do estudante brasileiro em ciências pode ser explicado por uma série de fatores. Um deles é a deficiência na infraestrutura. De acordo com o Censo Escolar 2015, apenas 57,1% dos estudantes brasileiros do ensino médio possuem acesso a laboratórios de ciências, sendo que esse número é puxado pelos estabelecimentos privados.
? Fazer ciências é como aprender a andar de bicicleta ? disse Débora. ? Não adianta passar um ano na sala de aula, explicando toda a mecânica da bicicleta, que o aluno só vai aprender fazendo.