“Nasci em Budapeste, em 1967, e alcancei a pontuação máxima na Olimpíada Internacional de Matemática por duas vezes seguidas, antes dos 20 anos de idade. Na última década, tenho participado do comitê da OIM, que se dedica a estimular a participação de estudantes de todo o mundo.”
Conte algo que não sei.
Mesmo eu sendo aficionado por números desde pequeno, nenhum dos meus quatro filhos herdou o gosto. A mais velha está no fim da adolescência, e o mais novo ainda é criança. De vez em quando, consigo passar para eles alguns conhecimentos matemáticos, mas, em geral, eles não têm o mesmo interesse. Gostam de outras coisas, como História. É normal, cada pessoa desenvolve uma personalidade única, com interesses específicos. Não posso forçá-los.
Por que você acha que matemática é o pesadelo de tantos estudantes?
(Depois de uma longa pausa) Não sei (risos). Meu gosto por matemática veio muito naturalmente, acho que tem a ver com gostar de solucionar problemas. Não sei explicar o motivo de muitos alunos detestarem resolver problemas. É um mistério para mim (risos).
Você se interessou por matemática ainda pequeno, certo?
Sim, sempre gostei de números e quebra-cabeças. Mas as primeiras competições de que participei foram de física, esse era o meu interesse original. Comecei nas disputas de matemática só aos 15 anos, o que é considerado tarde. Fiz muitas dentro da Hungria, e algumas fora.
Você fez a pontuação perfeita na Olimpíada Internacional de Matemática de 1985 (Helsinque) e 1986 (Varsóvia). Foram as primeiras participações?
Não, eu já havia participado antes e me saí bem, mas não tão bem quanto nessas duas. Essas, claro, foram marcantes, mas o trabalho desenvolvido anos antes foi importante para que eu conseguisse atingir a pontuação máxima, fazer a “prova perfeita”.
Qual a sua impressão sobre os brasileiros que vão participar da OIM ano que vem?
Eles são bons. Vinte foram selecionados por um comitê da Olimpíada Brasileira de Matemática, porque se destacaram na última competição nacional, e os outros oito foram indicados pela Escola Eleva, patrocinadora do evento. Vejo pelo menos dois com grandes chances de ganhar uma medalha de ouro (os 50 primeiros colocados, de um total de 600, recebem ouro). Pena que nossa comunicação não é muito boa: meu inglês ainda tem sotaque húngaro, e alguns estudantes também não falam muito bem (risos). Mas vamos nos entendendo pelos números.
Acha fundamental que cada país tenha concursos nacionais? A Hungria foi o primeiro a organizar uma Olimpíada de Matemática, em 1894, e o Brasil realiza desde 1979.
Não tenho muitas informações sobre a Olimpíada Brasileira de Matemática, mas sei que nas competições ibero-americanas o Brasil tem sempre os melhores times. Em segundo lugar, vem o México, tradicionalmente. Acho que o sistema de competições dentro dos países é muito importante. É preciso encontrar esses talentos que, de outro modo, poderiam passar despercebidos. Não é tão importante que ganhem prêmios bons, mas que, por meio dessa prática da matemática em competições, preparem-se para o futuro trabalho deles.
O que faz um grande matemático?
Bom, não me considero exatamente um grande matemático. Não ainda. Mas diria que é preciso unir talento e trabalho. Alguns têm muito talento, mas não trabalham isso ao longo dos anos e acabam se perdendo. Outros se dedicam muito, mas não têm o dom. Neste caso, a pessoa até será boa, mas não será grande. É preciso descobrir quem consegue unir esses dois aspectos.