Cotidiano

Antonin Léonard, empreendedor: 'O digital permite ao cidadão ser agente da inovação'

“Tenho 29 anos, nasci em Nancy, França. Sou co-fundador do OuiShare, organização global com sede em Paris, que visa a acelerar projetos colaborativos através da conectividade. Interesso-me pelo impacto da colaboração on-line e atuo no engajamento das comunidades para ajudar startups e corporações.”

Conte algo que não sei.

Tomamos como certo que o modelo vertical hierárquico é a norma, algo que não se pode mudar. Somos formados para sermos pequenos soldados em empresas onde há tomadores de decisão de um lado e assalariados, encarregados de executar as regras, do outro. A mesma coisa ocorre na política, já que a democracia é um sistema regido pela verticalidade, e quem vota é “passivo” diante das decisões. As novas redes, por outro lado, são por natureza distribuídas e descentralizadas. À medida que a internet desarruma campos importantes da economia, da sociedade e da vida cotidiana, coisas que achávamos adquiridas até aqui, como a organização da sociedade, da democracia e das empresas, estão sendo reconfiguradas.

Como a tecnologia digital está tornando a sociedade menos vertical?

Já está acontecendo em algumas áreas. Há muitas empresas que estão adotando métodos como a administração colaborativa. Hoje, também, temos acessos a dados que permitem otimizar nossas necessidades, como a infraestrutura, por exemplo. Com o aumento de serviços como o carpooling (uso compartilhado de carro para diminuir o trânsito) se precisará de menos estradas. Com o desenvolvimento dos veículos autônomos, os estacionamentos devem desaparecer. Um campo que ainda sobra a explorar é o da democracia, que no futuro poderá ser uma combinação entre a democracia representativa e a democracia direta.

Como imagina esse sistema?

Não sabemos bem como ele será. Há experimentos numerosos em todo o mundo, porém, mais no campo local, das cidades, do que no nacional. Isso demonstra que a ideia de uma escala nacional poderá ser cada vez mais desnecessária. O importante é que o digital permite aos cidadãos serem agentes da inovação. E é a cidade que passa a se colocar a serviço do bem comum, do interesse econômico. Com isso, a relação se inverte.

Que áreas são hoje em dia mais afetadas pela economia colaborativa?

Até agora são o turismo, a mobilidade e os bancos. O Airbnb obrigou os hoteleiros a repensarem seus modelos. Já na mobilidade, vemos empresas com o carpooling, a possibilidade de ceder a formas de mobilidade apenas quando precisarmos delas. Outro impacto foram as fintechs e as redes descentralizadas que permitem trocar dinheiro diretamente, sem a necessidade de intermediários tradicionais.

Há um senso comum de que a competição é algo inerente da evolução dos seres vivos e da manutenção dos ecossistemas. Como a economia colaborativa pode vencer essa cultura?

Essas teorias da competição saem de um princípio de pessimismo antropológico, de que o homem é mau por natureza e que os sistemas e as organizações têm de tomar ato disso. Dependendo do contexto, o ser humano pode aderir tanto à cooperação quanto à competição. Não é uma questão ideológica, mas de compreensão do papel da tecnologia. Hoje, temos acesso a novas plataformas e coletivos de independentes que baixam o custo de transação para cooperar, com maneiras mais flexíveis e autônomas de organização, e que estimulam a cooperação. Se sou autônomo freelancer independente preciso cooperar com outros indivíduos para achar outras oportunidades no cotidiano e desenvolver meu modelo. Comparativamente, vejo mais vantagens nas novas formas de organização do que nas antigas.