Agronegócio

Custo do transporte e safra recorde "seguram" cotação da saca da soja

Custo do transporte e safra recorde "seguram" cotação da saca da soja

Cascavel – Há exatamente um ano, a cotação da saca da soja no oeste paranaense chegava a meteóricos R$ 200. Situação bem diferente da vivida atualmente. Conforme o mais recente levantamento feito junto ao Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento), o preço da saca hoje está cotado a R$ 135. Essa retração vem sendo observada nas últimas semanas. Um dos motivos é o recorde na safra 2022/23, apesar das adversidades climáticas.

Para entender melhor o cenário atual e traçar um comparativo com o mesmo período do ano passado, a reportagem do Jornal O Paraná conversou com o analista de mercado da Granoeste, Camilo Moter. “No ano passado, havia todos os elementos para se formar preço, seja por meio da Bolsa de Chicago, prêmios e o câmbio mais alto”, recorda Camilo.

Segundo ele, era outra realidade da vivida atualmente. “Enfrentávamos quebras nas safras brasileira e argentina. A produção mundial era bem menor, sem contar o movimento especulativo dos fundos de investidores, que passaram a comprar muito mais”. Além disso, os reflexos também eram gerados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.

No ano passado, a produção mundial de soja foi de 358 milhões de toneladas e para esse ano, a estimativa é a de alcançar 375 milhões de toneladas, ou seja, quase 20 milhões a mais que no ano passado, mesmo com a quebra na safra argentina, que deve colher menos 30 milhões de toneladas em relação à estimativa inicial.

Já no Paraná, a expectativa é de produzir 22,18 milhões de toneladas de soja em uma área de 5,76 milhões de hectares. Isso representa um volume 82% acima de 2021/22.

“Acomodações”

No momento, a oferta mundial é maior, com a China passando a produzir um pouco mais em relação ao ano passado. Apesar de tudo, e da quebra nesse ano, a produção global, dada às intempéries climáticas que afetam principalmente a Argentina, será superior à do ano passado.

“A demanda chinesa está acomodada, apesar de ter retornado a produção depois da pandemia do novo coronavirus e dos casos de peste suína africana”, enfatiza Moter. “Eles (chineses) têm um pouco mais de produção interna de insumo e produtos substitutos alternativos para ração, como a polpa de citrus, farelo de canola e de algodão”.

A demanda chinesa, que já chegou a 120 milhões de toneladas de soja há cerca de cinco anos, esse ano alcançará 96 milhões de toneladas, um pouco acima de 2022, que fechou em 92 milhões de toneladas importadas pelo país asiático. “O câmbio atual está bem acomodado, entre R$ 5 e 5,20, abaixo da realidade verificada no mesmo período do ano passado, quando oscilava entre R$ 5,70 e R$ 5,80. O preço em Chicago chegou na época a US$ 17 a saca e hoje, orbita em US$ 15”.

Outro fator a ser levado em conta é o custo da logística, especialmente no que tange ao transporte, que chegou à casa dos R$ 12, R$ 14 por saca de 60 quilos de soja transportado até o Porto de Paranaguá. Essa alta expressiva do custo do transporte também refletiu no preço da commodity.

Safra americana

A expectativa nos próximos meses é de redução no valor do frete, com prêmios melhores atribuídos à pressão da colheita. “Agora, o grande fator é a evolução da safra americana, cujo plantio começa em abril e se estende até início de junho”, comenta o analisa de mercado. Ele divida as etapas do plantio da soja nos Estados Unidos da seguinte forma: de 10% a 20% neste mês de abril; 70% no mês de maio e de 10% a 20% em junho.

O preço da saca de soja é permeado por três vertentes principais: a Bolsa de Chicago, o prêmio e o câmbio. Ainda conforme Moter, o frete mais alto acaba reduzindo o preço da saca no interior, ao contrário da realidade verificada no Porto de Paranaguá.

A demanda acomodada deixa mais folga em um período de oferta mais escassa. “O mundo perdeu no mínimo 50 milhões de toneladas de produção de soja nos últimos três anos”. No ano passado, a situação era preocupante, com a quebra acentuada na safra no Brasil e na Argentina e com os fundos de investidores comprando forte em Chicago, fomentando o caráter especulativo.

Foto: CNA/Wenderson Araújo/Trilux