FLORIANÓPOLIS – Na tentativa de aliviar seu déficit, uma das opções estudadas pela Postalis é solicitar à Previc, órgão que supervisiona os fundos de pensão, a permissão para criar um fundo exclusivo concentrando seus ativos podres. O fundo dos profissionais dos Correios vem tentando se livrar desses papéis já lançados como prejuízo, mas a proposta recebida pela entidade até agora foi de apenas 4% do valor total investido, afirmou o presidente da entidade, André Motta. Segundo o último relatório anual da Postalis, o montante hoje provisionado (previsão de calote) é de aproximadamente R$ 1,5 bilhão, considerando o valor investindo pelo fundo.
? A legislação não permite, por isso teremos que conversar com a Previc sobre a criação de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) do tipo não padronizado. Como não temos pressa, vamos avaliar o melhor modelo. Nós havíamos contratado uma assessoria para se desfazer desses papéis, mas a proposta oferecida, de 4%, não nos interessa. Seria uma irresponsabilidade ? afirmou.
GREENFIELD: INVESTIGAÇÃO SOBRE APLICAÇÃO
Assim como seus principais pares, o segundo maior fundo de pensão do país por número de participantes foi investigado na CPI da Câmara dedicada a irregularidades no setor, é alvo da operação Greenfield, da Polícia Federal, e já está exigindo contribuição extra dos participantes para tapar rombos do passado. O Postalis criou uma comissão interna de análise sobre o FIP Multiner, que teria feito parte do esquema investigado.
? O Postalis está colhendo o maior número de informações sobre o caso para que chegue, se possível, a alguma conclusão relevante. Posteriormente, outros investimentos semelhantes passarão pelo mesmo processo ? afirmou Motta. ? Mas sem querer tirar a responsabilidade dos fundos de pensão, eu acredito que a Greenfield precisa gerar alguma mudança nas firmas auditorias. Elas são contratadas justamente para avaliar esses investimentos ? disse.
Em 2015, a Postalis voltou a registrar déficit, de R$ 1,5 bilhão, e pode ter que lançar novo plano de equacionamento. Segundo Motta, o fundo só saberá se ele vai ser de fato necessário daqui a dois meses, quando será possível avaliar o desempenho dos seus planos.
BRIGA COM BNY MELLON: ?MAIOR ATIVO?
Há um mês e meio no cargo, o novo presidente da Postalis elencou a venda da carteira podre como uma das três frentes de atuação na tentativa de resgatar a saúde das finança do fundo de pensão dos funcionários dos Correios. As outros duas dizem respeito aos cerca de R$ 5 bilhões que cobra do banco BNY Mellon na Justiça; uma dívida de aproximadamente R$ 1,8 bilhão que os Correios têm com a fundação.
? Para nós da Postalis, o maior ativo que a gente tem é a briga com o BNY Mellon. Os R$ 5 bilhões resolvem o problema do fundo. Com eles, eu consigo propor à Previc um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e talvez melhorar as condições do equacionamento ? afirmou o executivo, que foi diretor de investimentos da fundação entre 2013 e 2014.
A Postalis cobra do banco americano valores perdidos em investimentos que geraram prejuízo, como a compra de títulos privados atrelados às dívidas de Argentina e Venezuela. O BNY argumenta que era apenas o administrador dos fundos que fizeram o investimento, não os gestores das aplicações. Já o Postalis afirma que o administrador é também responsável. O processo tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Motta afirmou ainda que a disposição dos Correios em provisionar o R$ 1,8 bilhão de repasses não pagos ao Postalis ? referentes à Reserva Técnica de Serviço Anterior (RTSA) ? é um bom indicativo.
? O presidente dos Correios esta conversando sobre a possibilidade de provisionar isso em balanço. Não quer dizer que vai pagar, mas é um indicativo ? disse Motta, que foi nomeado para a Postalis com a chegada de Guilherme Campos, aliado do ministro Gilberto Kassab (PSD-SP), ao comando da estatal.
(*O repórter viajou a convite da Abrapp)