Agronegócio

Com preço nas alturas, produtor quer ajuda do céu para plantar soja

Espera-se uma produção de 20,38 milhões de toneladas do grão

Com preço nas alturas, produtor quer ajuda do céu para plantar soja

Cascavel – Com o fim do vazio sanitário para a cultura da soja, na quinta-feira (10), produtores do Paraná já podem ir a campo para o plantio. De acordo com a primeira estimativa do Deral (Departamento de Economia Rural), serão semeados aproximadamente 5,5 milhões de hectares de soja na safra 2020/21. Espera-se uma produção de 20,38 milhões de toneladas do grão.

No entanto, as condições climáticas novamente preocupam. O tempo seco está presente em todo o Estado nas últimas semanas e as previsões do Simepar são de pouca alteração, o que dificulta o trabalho de plantio.

A expectativa de um aumento na área de plantio da soja neste ano (1,2% a mais que no ciclo anterior) no Paraná leva em conta também a elevação do preço ao produtor. Nesta semana, os preços pesquisados pelos técnicos de campo do Deral apontaram que a saca foi comercializada, em média, por R$ 117, valor 1,4% superior ao da semana anterior e cerca de 60% maior que o do mesmo período do ano passado.

A valorização da commodity vem do aumento da oferta mundial, seja pelo produto in natura e seus derivados, seja pela proteína animal, a quem a soja alimenta. Mas se os preços estão nas alturas, é para lá que os olhos dos produtores se voltam. Eles esperam a chuva para poder ir a campo. Por enquanto, a ansiedade precisa ser contida pela cautela. “São poucos os produtores que fizeram o plantio no seco. Existe uma possibilidade de chuva próximo dos dias 19 e 20, com isso pode ser que o produtor arrisque fazer o plantio no pó. Porém, é uma situação temerária, porque a expectativa de chuva não é de volume ideal e regular na região como um todo. O ideal seria o produtor esperar uma umidade de solo satisfatória, para que possa então implantar uma cultura de verão e ter uma largada na fase de germinação e desenvolvimento inicial satisfatórios”, explica a economista Jovir Esser, do Deral de Cascavel.

Ela lembra que o calendário prevê o cultivo até 31 de dezembro. Contudo, a demora tem impacto direto na próxima lavoura, e, por isso, muitos produtores tentam otimizar os prazos e as safras. “É importante lembrar que, na safra 2019/2020, tivemos problemas de umidade ideal no início da safra e, quem plantou mais tarde, na média, teve melhor resultado. Claro que cada safra é um cenário, com o clima sendo fundamental pós-semeadura”, complementa Jovir.

A estimativa inicial é de que sejam plantados na regional de Cascavel 516 mil hectares, com produtividade média estimada de 3.900 kg/ha, o que deve render cerca de 2 milhões de toneladas do grão.

Governo avalia zerar tarifa de importação de soja

Após a decisão de zerar a tarifa de importação do arroz para aumentar a oferta interna e pressionar os preços para baixo, o governo poderá repetir a estratégia com a soja. A ideia em estudo é zerar a tarifa de 10% até o fim deste ano sobre um volume limitado do produto que vier de países fora do Mercosul. O objetivo é o mesmo do que aconteceu com o arroz.

Segundo especialistas, com o dólar alto, o produto importado ainda chegaria aqui com preço elevado. O cenário cambial também estimula produtores brasileiros a exportarem soja. Nesta semana, a saca alcançou média de R$ 117, estimulando inclusive a venda antecipada por produtores do Paraná, prática que era muito mais comedida historicamente.

No caso da soja, a avaliação é que a forte concentração das exportações para o mercado chinês poderá prejudicar as indústrias de óleo de soja e derivados do produto, também usado como ração animal. Os EUA poderiam fornecer o produto ao Brasil temporariamente com o imposto menor. Hoje, já se importa soja paraguaia.

De acordo com Carlos Cogo, analista de mercado da Cogo Inteligência em Agronegócio, 90% da safra de soja já foi vendida: “Temos apenas 10% da safra disponível no mercado até o fim do ano”.

Segundo dados do Ministério da Economia, de janeiro a agosto deste ano, as importações de soja cresceram quase 300% em valor e 307% em volume frente ao mesmo período de 2019. Já as exportações aumentaram cerca de 30%.


Toda variação exagerada é ruim, diz Ortigara

Cascavel – O secretário de Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, esteve em Cascavel durante a semana e avaliou o cenário agrícola nacional: “Toda variação exagerada não é boa”, resume.

Segundo ele, muito do que está acontecendo agora tem influência da pandemia, mas ele lembra do grande apetite da China já iniciado ano passado, ou seja, apenas se intensificou. “Mandamos mais coisas pra fora com uma velocidade espantosa devido à desvalorização da nossa moeda e tivemos preços positivos”, acrescenta, referindo-se à desvalorização cambial, que torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. Em um ano, o dólar subiu 28%.

Ortigara lembra ainda de outro fator importante, como a quebra das safras de feijão, de milho e de arroz. “Temos preços pressionados para cima em alguns casos pela oferta e outros por pressão internacional por compra”.

O secretário diz que esse movimento tem seu lado positivo, pois trouxe renda ao produtor. “Só em soja, trouxemos nos oito meses deste ano US$ 6 bilhões a mais que no ano passado. Houve uma aceleração da exportação. tivemos um crescimento importante no preço das carnes, por força da pressão internacional; exportamos mais bois, mais 200 mil toneladas de porcos… tem uma pressão de compra externa que favorece e empurrou para o exterior nossos produtos”, explica, mas alerta: “Isso não vai durar pra sempre. Daqui a pouco se recompõe a oferta, as coisas voltam ao normal. Não é de se estranhar que daqui a um ano estejam chorando pelo preço baixo do arroz”.

E ele cita o lado negativo, do consumidor: “O consumidor com pouca renda vai sofrer. O leite encareceu demais; todas as proteínas animais; boa parte dos grãos; tem coisa que está pesada para o consumidor… temos que cuidar até para que não volte a inflação”.

Ortigara acredita que alguns preços tendem a refluir daqui a uns 90 dias, “quando começar a entrar feijão novo, aumentar o mix da horta; o próprio leite baixa pois melhora a condição das pastagens”. Por outro lado, diz que “derivados de trigo tendem a ficar caros; as carnes vão continuar caras; o arroz/feijão caro…”


Seca castiga safrinha de milho

Cascavel – A falta de chuva não impacta só no abastecimento de água urbano. No campo, o milho safrinha, que está em fase final de colheita, foi castigado pela estiagem.

Na regional de Cascavel da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento), a área de milho safrinha já está 98% colhida e deve chegar aos 100% nesta próxima semana, confirmando perdas devido à estiagem. “A produtividade média deve ficar próximo a 5.550 quilos por hectare. Havíamos previsto cerca de 5.700 kg/ha, então seria em torno de 5% de quebra. Evidente que, se você for comparar com a safra do ano passado, que foi recorde de produtividade, teríamos uma quebra de 15%”, explica a economista Jovir Esser, do Deral (Departamento de Economia Rural).

Segundo ela, além da falta de chuva durante o desenvolvimento da planta, o atraso no plantio, também provocado pela estiagem, foi o que mais agravou a produção.

A quebra chegou a ser estimada em 17%, mas a diferença das lavouras ia modificando a média de produtividade. Isso porque a chuva atingiu os municípios de modos diferentes. Alguns registraram maior volume e maior frequência.

Já na regional de Toledo, a quebra chegou a 34%, caindo de 7.121 kg/ha para a média atual é de 4.720 kg/ha. Em todo o Paraná, foram colhidos 89% dos 2,3 milhões de hectares cultivados.

E se tem quem já está encerrando a colheita, também tem quem está iniciando a próxima safra. No Estado, o plantio da primeira safra 2020/21 atingiu 17% da área total de 359 mil hectares.

Assim como a soja, o destaque neste momento é o preço do cereal, que tem rendido mais de R$ 45 a saca de 60 quilos ao produtor.

Trigo

A colheita do trigo paranaense chegou a 11% da área cultivada, iniciando pelos locais mais atingidos pela seca, o que reflete negativamente na produtividade. Na semana passada, 71% das lavouras estavam em boas condições. Agora, o porcentual caiu para 66%.