A década de 1980 foi pródiga de grandes talentos no automobilismo paranaense e brasileiro. Mas um estava acima da média. Trata-se de Olício dos Santos Filho, que, de Assis Chateaubriand, brilhou nas pistas de todo o Brasil e do Norte da Argentina. Olício se destacou como um dos gênios e, além de excelente piloto, também era ele mesmo que fazia o carro, da montagem aos acertos finais. Já como campeão brasileiro, passou a contar com a ajuda de Alcides Ricci na preparação do carro.
Olício deixou as pistas nos anos 90, mas continuou no esporte e passou para o halterofilismo, colecionando até os dias de hoje nove títulos mundiais e 20 recordes. Hoje com 76 anos, Olício diz que a carreira de piloto ainda não se encerrou porque ainda sonha em disputar a Cascavel de Ouro em condições de bater um recorde: quer fazer a melhor volta da prova e a marca seja o recorde da era dos carros de Marcas 1.6.
O início
Olício infernizou a vida dos adversários logo que despontou no cenário nacional. As estrelas da época, sempre contando com o suporte de grandes patrocínio não admitiam perder para o caipira do interior do Paraná, chegava no autódromo levando o carro de corrida em uma carretinha, acompanhado da esposa Deusa e das filhas Ellen e Liliane, que eram pequenas. Deusa fazia toda a cronometragem e muitas vezes era referência para as outras equipes porque seus dados tinham precisão de cronometragens eletrônicas, que só viriam a surgir muitos anos depois. O hotel era uma barraca montada na área de estacionamento dos autódromos. Como resultado de toda a sua obstinação, sagrou-se bicampeão brasileiro do Torneio Philco Corcel II, competição patrocinada pela Ford, que oferecia bons prêmios. Olício ganhou dois carros O Km como prêmio pelos dois títulos.
Revolução
Olício causou uma revolução no automobilismo brasileiro. Como era dentista passou a pesar as peças em balança de precisão e escolhia as mais leves para colocar no carro. Saia de Assis até Porto Alegre, visitando revendas Ford para escolher as mais leves. Como tudo tinha que ser original, colocando as mais leves, conseguia baixar peso no carro. Era um grama por cada parafuso das rodas, e acumulando com muitas outras peças, baixava quilos na soma geral. Os adversários demoraram muito tempo para descobrir o segredo. “Em todas as corridas, os adversários direto pelo título protestavam meu carro. Em algumas vezes antes mesmo de começar os treinos. Em provas seguidas uma da outra, como Goiânia e Brasília, os comissários deixaram o motor lacrado de uma para outra porque não dava tempo montar tudo até o início dos treinos da segunda”, disse Olício.
Suspensão do Del Rey
Reza a lenda que a suspensão do Ford Del Rey foi inventada por Olício. Ele desconversa e diz que tem o seu dedo. “Os engenheiros da Ford iam para a pista para descobrir porque o meu Corcel tinha melhor estabilidade do que os demais. Verificavam tudo e nada encontravam. Levavam as peças para a fabrica e o laudo apontava que tudo era original. Na realidade trabalha um pouco o braço da suspensão e conforme a pista, abria um pouco a dobra da meia lua. Era quase imperceptível, mas dava um resultado enorme. Quando eu tive que deixar o Corcel II porque o regulamento determinava que o bicampeão tinha que sair já que a ideia era motivar aqueles que estavam começando, chamei o Helio Perini, engenheiro da Ford, e passei tudo o que fazia na suspensão. Como o Del Rey estava para ser lançado e veio como um carro muito estável, surgiu esse boato de que eles usaram meus truques na suspensão. Não sei se realmente isso aconteceu e até hoje o Pirini, que já está aposentado, não confirma”, diz, sorridente, Olício.
Obsessão por recordes
Mesmo coroado pelo bicampeonato do Corcel II, Olício diz que sua meta desde o primeiro dia que entrou em uma pista eram recordes, pontuar em todos os autódromos e fazer a melhor volta em todas. E, assim, ele acumulou 37 vitórias nacionais. Também tem até hoje o recorde de pontuar em 25 corridas consecutivas.
Amigos
Olício diz que as amizades que fez no automobilismo foi sua maior conquista. Elas continuam até hoje e agora com as redes sociais fala com maior freqüência com aqueles que fizeram parte de sua trajetória no automobilismo. Ele destaca que Delci Damian e Saul Caus, ambos já falecidos, foram os primeiros amigos que formou no automobilismo. Mas, se for enumerar, a conta passa de 1.000.
Já sobre os adversários, ele diz que Aloysio Andrade foi calo no seu sapato, adversário direto em seus dois títulos, mas que, tecnicamente, Victor Steyer foi um dos seus maiores adversários. Mais tarde os dois formaram uma temida dupla no Campeonato Brasileiro de Marcas.