Política

Na CPMI, governistas acusam Bolsonaro enquanto oposição desqualifica o hacker Delgatti

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir hacker, alvo de investigação que apura a inserção de dados falsos sobre ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As inserções teriam sido feitas em janeiro deste ano, antes dos atos antidemocráticos. 

Mesa:
advogado do depoente, Matheus Moreira;
hacker Walter Delgatti Neto;
advogado do depoente, Ariovaldo Moreira.

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir hacker, alvo de investigação que apura a inserção de dados falsos sobre ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As inserções teriam sido feitas em janeiro deste ano, antes dos atos antidemocráticos. Mesa: advogado do depoente, Matheus Moreira; hacker Walter Delgatti Neto; advogado do depoente, Ariovaldo Moreira. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Brasília – O depoimento do hacker e réu confesso Walter Delgatti Neto movimentou a CPMI do 8 de Janeiro, onem (17). Para os governistas, as acusações do hacker envolvem diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro em um plano para fraudar o sistema eleitoral. A oposição, por outro lado, lança dúvidas sobre a credibilidade do depoente. Na opinião do senador Fabiano Contarato, o ex-presidente Jair Bolsonaro deve responder por dois crimes previstos no Código Penal: tentar abolir o Estado democrático brasileiro e tentar depor um governo legitimamente constituído.

O senador Sergio Moro (União-PR), no entanto, desqualificou o depoimento de Walter Delgatti Neto. Segundo o parlamentar, o hacker responde ou respondeu a 46 processos e foi condenado por estelionato contra clientes de um banco. “Existem problemas de credibilidade da testemunha, que praticou estelionato em série. Qual o cerne do estelionato? A fraude, a falsidade, a mentira contumaz. E aqui chega o depoente contando as suas versões. Vejo colegas tomando a palavra dele como se fosse absoluta, quando a gente está aqui diante de um estelionatário profissional condenado”, afirmou.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) reforçou a crítica. Para ela, o depoente “não tem credibilidade nenhuma”. “Por você ter problemas, sua palavra está em dúvida aqui. É a sua palavra contra a palavra de um presidente da República. Vocês se encontraram? Se encontraram. Mas, como você vai provar que ele te pediu tudo aquilo? Mais uma vez, quem sai prejudicado dessa grande história é você. Você não tem como provar. É a palavra do Walter contra a de outra pessoa. Você está prejudicado”, disse Damares diretamente para Walter Delgatti Neto.

Oposição sem resposta

Na parte da manhã, Walter Delgatti respondeu diversos questionamentos da base governista de Lula, porém, à tarde, não respondeu às perguntas de parlamentares da oposição. Ele decidiu utilizar o direito ao silêncio, concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal), durante a segunda etapa de seu depoimento, pelos senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Marcos Rogério (PR-RO) e pelo deputado Delegado Ramagem (PL-RJ).

O senador Flávio Bolsonaro disse que as declarações de Delgatti ao longo da manhã são mentirosas. “Essa narrativa que foi construída aqui a manhã inteira de que ele teria sido contratado pra fraudar as eleições é uma mentira.” Segundo Flávio Bolsonaro, as conversas com Delgatti sempre foram no sentido de que ele demonstrasse seus conhecimentos para oficialmente instruir o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na melhoria das urnas. “Foi nesse aspecto que o senhor foi contactado, então pra que ficar mentindo aqui? O senhor está ganhando dinheiro de alguém pra fazer isso aqui?”, indagou o senador.

O senador Marcos Rogério (PL-RO) classificou o depoimento de “enredo ensaiado” e questionou a ausência de provas. Rogério também alertou para o fato de Delgatti já ter habeas corpus, mas ter usado a prerrogativa apenas durante as perguntas de parlamentares da oposição. “Quando senadores de oposição passam a questionar, você opta pelo silêncio. Até então, falava até o que não era perguntado. Estava se sentindo em casa. O seu silêncio fala mais do que suas palavras para agradar os membros do governo aqui hoje”, criticou.

O deputado Delegado Ramagem (PL-RJ) enumerou os crimes pelos quais Delgatti foi condenado nos últimos anos em sua atuação como hacker, como falsidade ideológica e estelionato.  “É o relato dessa pessoa que será tido como verdade absoluta?”. Ramagem também considerou a testemunha “parcial” por só responder a parlamentares da esquerda. “Publicamente ele já manifestou seu apoio à esquerda e ao Lula.”

Apoio a Delgatti

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) defendeu a legitimidade do depoimento. “Se a pessoa cometeu um crime, isso não está sendo objeto de investigação. O que está sendo investigado aqui é a tentativa de golpe de estado. E, para esse desiderato, o senhor (Walter Delgatti Neto) é sim uma testemunha valiosa para nós”.

Durante o depoimento, o hacker admitiu ter feito tentativas de invadir o sistema das urnas eletrônicas mantido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Questionado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), porém, ele disse que jamais conseguiu:

“O senhor está dizendo o que sempre dissemos: o sistema eleitoral brasileiro é confiável. No Brasil de tantos problemas, num período sensível, o presidente da República se vale de sua condição para contratar uma pessoa a fim de tentar mostrar a fragilidade do sistema eleitoral. É de uma gravidade gigantesca”.

Foto: Agência Senado