POLÍTICA

A dois dias do tarifaço, aumenta pressão por ação do Governo Lula

Entenda o impacto do Tarifaço e as dificuldades do governo Lula em encontrar uma estratégia de reação diante da tarifa de 50% - Foto: ABR
Entenda o impacto do Tarifaço e as dificuldades do governo Lula em encontrar uma estratégia de reação diante da tarifa de 50% - Foto: ABR

Brasil - A dois dias da entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o governo do presidente Lula (PT) ainda “bate cabeça” na busca de uma estratégia de reação. A equipe econômica discute alternativas, mas tem resistências internas para adotar medidas emergenciais que impliquem subsídios diretos, como o setor produtivo tem solicitado.

Empresários pressionam o Planalto por um programa semelhante ao BEM (Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda), criado em 2020 para atenuar os impactos da pandemia sobre o mercado de trabalho. A ideia seria garantir apoio financeiro às empresas que se comprometessem a preservar empregos, com o governo arcando com parte dos salários. Apesar disso, técnicos da área econômica avaliam que o momento não justifica um gasto desse porte.

Segundo interlocutores, a principal preocupação é o risco de que um benefício emergencial acabe se tornando permanente, pressionando ainda mais as contas públicas. Além disso, o time que elabora o Orçamento afirma não ter sido oficialmente acionado para discutir a medida. A visão predominante é que, se aprovado, um programa de apoio deve ter prazo definido e controle rígido de despesas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sinalizou que a prioridade deve ser a oferta de linhas de crédito, possivelmente via BNDES. A alternativa de ampliar prazos de pagamento do ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio), como pediram os exportadores, também está em análise — a proposta é estender o limite atual de 750 para 1.500 dias. Por enquanto, porém, não houve movimentações formais envolvendo Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal.

“Convite”

Paralelamente, o governo brasileiro ainda não protocolou pedido formal de reunião com Donald Trump (Republicano), mas “espera” que o presidente norte-americano abra espaço para diálogo. A avaliação no Planalto é que as declarações de Lula manifestando interesse em negociar já funcionariam como um convite.

Nos bastidores, porém, há pessimismo quanto a uma conversa nos moldes desejados por Brasília — restrita a temas comerciais e sem envolver questões políticas ou menções a Jair Bolsonaro. A Casa Branca, até agora, não enviou sinais de disposição para dialogar.

Apesar disso, o otimismo cresceu com a fala do secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, que admitiu a possibilidade de excluir do tarifaço produtos não cultivados em solo americano, como café, cacau e manga. O café brasileiro responde por cerca de um terço do consumo norte-americano.

O governo pretende insistir para que também fiquem de fora itens estratégicos como suco de laranja e aeronaves da Embraer.

Isolamento

A crise tarifária ocorre após seis meses de distanciamento diplomático entre Brasília e Washington. Desde a posse de Trump, em janeiro, o chanceler Mauro Vieira não conseguiu ser recebido pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. O próprio Lula, que já classificou o republicano como um “novo fascismo”, não demonstrou interesse em encontro bilateral.

De acordo com a Gazeta do Povo, fontes ligadas ao governo que pediram anonimato dizem que dois fatos podem ter inviabilizado o diálogo com a Casa Branca: Um deles foi uma entrevista dada por Lula à CNN Internacional, na qual ele afirmou que Trump “foi eleito para governar os EUA e não para ser imperador do mundo”. O outro fator foi a operação da Polícia Federal contra Bolsonaro na última semana, quando o ex-presidente foi alvo de medidas restritivas, com uso de tornozeleira eletrônica e proibições nas redes sociais e de se comunicar com o filho, Eduardo Bolsonaro, determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes.

Lula vai conversar com Trump?

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse ontem (29) que pode haver uma conversa entre os presidentes Lula e Donald Trump. Segundo ele, não há obstrução dos canais de diálogo entre as duas nações, entretanto, esse contato entre os chefes de Estado exige uma preparação protocolar mínima.

“É papel nosso, dos ministros, justamente azeitar os canais para que a conversa, quando ocorrer, seja a mais dignificante e edificante possível”, disse Haddad sobre o trabalho que vem sendo feito por ele; pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira; e pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. “Tem que haver uma preparação antes para que seja uma coisa respeitosa, para que os dois povos se sintam valorizados à mesa de negociação, não haja um sentimento de viralatismo, de subordinação”.

Haddad disse ainda que Lula já está com um plano de contingenciamento para ajudar empresas afetadas pelos 50%, que tomará uma decisão, caso o tarifaço não seja adiado. “Os cenários possíveis já são de conhecimento do presidente [Lula]. Ainda não tomamos nenhuma decisão, porque nem sabemos qual será a decisão dos Estados Unidos no dia 1º. O importante é que o presidente tem na mão os cenários todos que foram definidos pelos quatro ministérios”, sem detalhar os cenários.