Um breve olhar aos clássicos da Disney trata não só da vida das princesas, mas traz ensinamentos sobre as vilãs, as quais ainda que sejam poderosas e donas do reino vivem desesperadas pela beleza da juventude e são rotuladas de “bruxas”. Isso porque envelhecer tem um peso sobre as mulheres.
Demonstra-se isso na obra “A geração ansiosa”, de Jonathan Haidt, quando se comprova que as meninas são mais afetadas pelas redes sociais, com maior prejuízo a sua saúde mental. Para o psicólogo norte americano, o incremento nos índices de depressão entre as meninas se dá, pois, são mais afetadas pela comparação social e visual, isto é, o julgamento se dá pela aparência e pelo corpo – em alguns casos como moeda de troca social.
Contudo, uma questão interessante é considerar que a excessiva valorização da juventude, crescente nos últimos anos, é também uma questão socioeconômica. Afinal de contas, os procedimentos estéticos (e sua manutenção) não estão ao alcance de todos, sendo fator de exclusão social.
“Pressão”
Além disso, a pressão quanto à beleza (essencialmente sobre as mulheres) exige que estas gastem tempo e reservas financeiras para alcançar padrões inatingíveis, desviando seu foco de outras áreas da vida.
Gastos estes que eventualmente são cobrados no Judiciário em sede de divórcio. Porém, ainda que não partilháveis os resultados dos procedimentos estéticos, por não serem compreendidos como adiantamento de meação, as eventuais dívidas ainda existentes no momento da separação podem ser dividas entre o casal em sede de partilha de bens.
Sobre a busca da perfeição dos corpos femininos, a própria maternidade não sai ilesa disso quando influenciadoras se precipitam em exibir os corpos esculturais logo após o parto – sem ressaltar todos os procedimentos estéticos envolvidos na situação. A divindade da geração de uma vida por vezes fica ofuscada pela padronização de silhuetas.
Desafio dos padrões
A magia das bruxas, com sua força ancestral e sabedoria subversiva, é mais poderosa do que o encantamento efêmero das princesas, pois desafia padrões ao invés de se submeter a eles. Enquanto as princesas se deixam consumir pela obsessão com a beleza e a aprovação alheia, as bruxas, ainda que vilanizadas, são donas de si e de seus desejos, representando uma resistência simbólica às imposições sociais.
Em tempos de exaltação da juventude e de padronização dos corpos femininos, é nas bruxas que encontramos o poder de questionar, transformar e transcender, reafirmando a complexidade e a força das mulheres para além das aparências.
Dra. Giovanna Back Franco
Professora universitária, advogada e doutoranda em Direito