Opinião

Coluna Amparar: Deve-se sempre confessar a traição?

A infidelidade em uma relação é sempre fonte de sofrimento

Coluna Amparar: Deve-se sempre confessar a traição?

A infidelidade em uma relação é sempre fonte de sofrimento. Em certa medida, ela reverbera dentro na alma da pessoa traída como quebra de confiança. É, precisamente, isso que, na literalidade, o termo “in-fidelidade” significa: “sem fé” ou “sem confiança”. Nem sempre é possível “soldar” outra vez a ruptura provocada pela infidelidade.

É bem verdade que existem incontáveis formas de infidelidade em uma relação de casal e a infidelidade resultante de uma relação extraconjugal é apenas uma delas. Ainda que seja apenas uma das tantas modalidades, é a que mais sofrimento causa, a ponto de as pessoas tenderem identificar infidelidade com traição sexual. Neste tópico, vamos nos ater à infidelidade como uma relação extraconjugal.

Seria um equívoco pensar que a traição reverbera unicamente na alma da pessoa enganada, mas não na pessoa que trai. Ambos são afetados em suas almas. A pergunta que colocamos no título é: e agora que eu cometi uma traição, o que é adequado que eu faça? Devo confessar meu ato? Ou devo suportar sozinho tudo o que vem junto com ele? Obviamente que não existe resposta fácil para essas perguntas! Mesmo a resposta que daremos a seguir, apoiados nas descobertas de Hellinger, precisa ser bem avaliada.

Bert Hellinger, com seu costumeiro destemor, manifesta-se com clareza sobre o ponto. Vamos transcrever sua posição. “Quando alguém faz algo que acarreta sobre si uma culpa e a confessa ao outro, o outro precisa suportar as consequências. Quer dizer, o primeiro transfere as consequências para o segundo. A chamada sinceridade destrói a relação. Os segredos precisam ser guardados, também quando se trata de passos em falso. A solução consiste em consertar sozinho e suportar as consequências. Assim, o outro fica livre do peso. Se eu quiser compensá-lo, a fim de que tudo volte ao bom curso novamente, posso fazer algo de bom ao outro, secretamente, sem confessar nada. Isso é muito melhor do que confessar e causar um escândalo”.

A posição de Hellinger precisa ser bem contextualizada para não ser interpretada como uma “permissão para trair”. Antes de tudo, trata-se do que Hellinger qualifica de “passo em falso” (Fehltritt, na língua alemã). Ou seja, trata-se de uma ação eventual, e não de uma prática costumeira.

Um segundo ponto a ser ponderado: a pessoa que cometeu o “passo em falso” precisa ter se dado conta do caráter falho de seu ato. Para suportar sozinho a culpa, é preciso ter sentido culpa. Ou seja, é preciso haver percebido que falhou e que sente pelo erro cometido. Quando a pessoa alcança esse nível de consciência de si, suportar a culpa sozinha é a justa punição para seu erro.

Um terceiro ponto: a compensação. Quem errou precisa fazer algo para compensar a dor que causou à outra pessoa, mesmo quando a outra pessoa “não sabe” conscientemente (a alma sempre sabe!). O gesto de compensação feito sem poder admitir sua motivação aumenta a consciência de culpa a ser suportada! Quando a pessoa toma isso tudo silenciosamente em seu interior como um enriquecimento de sua alma e permanece no relacionamento, o passo em falso pode até mesmo chegar a ter um efeito positivo sobre a relação.

Na próxima semana vamos continuar nesse tema, examinando a seguinte questão: deve-se pedir perdão quando se comete uma traição?


JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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