Opinião

Vamos falar sobre o futuro das pessoas!

Opinião de Ronaldo Cavalheri

Como formar as pessoas para o futuro? Como as mudanças no mundo afetam esse processo? Saiba de uma coisa, as mudanças que acompanhamos nos últimos anos foram apenas a ponta do iceberg. Ainda não vimos nada, seremos impactados ainda mais pela tecnologia, com uma velocidade jamais vista. E como nos preparar para tudo isso? Qual será o papel das escolas nessa transformação? Nós seremos engolidos pelas máquinas?

A revolução industrial trouxe a necessidade de formação em massa, como em uma linha de produção. O modelo de ensino ainda visto na maioria das escolas, independente de faixa etária, infelizmente segue esse modelo fabril. Professor na frente da sala de aula como detentor do conhecimento e dezenas de alunos enfileirados em um papel passivo receptivo. Um formato com baixíssima atividade neural. E aí se inicia o processo produtivo, entram alunos e saem o quê?

Não estou falando de formar robôs. Estou falando de formar seres humanos, cada qual com seus objetivos, necessidades e habilidades diferentes. Hoje boa parte dos pais matriculam seus filhos na educação infantil já preocupados com o vestibular. Ou seja, colocam crianças no processo fabril de longos anos para garantir que seja atingido um score. Será que uma criança que hoje tem três anos vai passar por um processo seletivo de vestibular daqui mais de uma década? Não sei exatamente qual será o formato, mas acredito que teremos grandes mudanças.

Na sequência, o aluno cursa uma faculdade de 4 ou 5 anos para se tornar um profissional. Infelizmente, na maioria das situações, esse aluno é formado tecnicamente em um modelo engessado e que em pouco tempo está desatualizado. Pior ainda é esse aluno não saber como aplicar a teoria aprendida, pois o mercado de trabalho exige a prática e, mais do que isso, desenvoltura comportamental. E como mudar esse cenário? Como olhar para o futuro incerto e formar pessoas que tenham maiores oportunidades de sucesso?

A resposta parece complexa, mas não é. Temos que passar por um processo trabalhoso que muitas escolas não sabem como começar. Em vez de formar apenas no aspecto técnico e cognitivo, medido com uma nota objetiva, é preciso capacitar para uma vida mutante em questões totalmente subjetivas. A escola tem que se preocupar em preparar seus alunos com uma visão global, possibilitando experiências transformadoras.

Para falar de formação do futuro, é inconcebível que qualquer plano de aula deixe de considerar o desenvolvimento de novas habilidades e competências indispensáveis para o século XXI. Independente do objetivo profissional, tudo que é proposto em uma sala precisa considerar uma formação mais ampla, que envolva colaboração, resolução de problemas, criatividade, comunicação, visão empreendedora, relacionamento interpessoal, pensamento crítico entre muitas outras habilidades indispensáveis para a vida.

Aliás, a vida passa a ser um recurso indispensável para qualquer aula produtiva. É necessário levar a realidade para dentro da sala de aula. Os alunos precisam vivenciar e encontrar aplicação prática em tudo que fazem. Vivemos em um mundo cada vez mais conectado e a pluralidade de conhecimentos se faz necessária. Hoje, todos têm acesso à informação, mas precisam desenvolver melhor sua curiosidade investigativa e construir um ponto de vista mais sólido. Com isso, temos uma mudança no papel da escola e, também, do professor. A presença pedagógica se faz necessária em um modelo diferente, não como ditador, mas sim como orientador e mediador, direcionando cada aluno para o caminho mais adequado. Culturalmente, é um desafio, pois a responsabilidade do aluno aumenta. Ele passa a ser o grande protagonista do processo de aprendizagem.

Sinceramente, não sei o que vai acontecer com essa ou com aquela profissão, mas posso dizer, com bastante convicção, que quem tiver habilidades comportamentais afloradas terá o mundo nas mãos. A educação transformadora precisa focar nas pessoas, independente do cenário tecnológico e do seu impacto. Só assim os alunos serão preparados para se encaixar em uma nova realidade.

 

Ronaldo Cavalheri é engenheiro, especialista em educação e CEO do Centro Europeu – primeira escola de Economia Criativa do Brasil