Assis Chateaubriand – É oficial. O projeto da obra da Frimesa não tem mais previsão de início das atividades no fim de 2020. A confirmação é do diretor-executivo da cooperativa, Elias Zydek. Segundo ele, as incertezas comerciais como a antecipação do fim da vacinação contra a aftosa no Estado, os reflexos econômicos e comportamentais de mercado somados à burocracia travaram o projeto que nem sequer saiu da terraplanagem, com 75% dessa etapa concluída, e da fundação, que chega a 38%.
Considerada a maior obra em andamento neste segmento em todo o Brasil, orçada em R$ 750 milhões na primeira etapa, passando de R$ 1 bilhão quando completa e geração de 7 mil empregos diretos e 10,5 mil indiretos, ela deveria estar em pleno vapor com paredes sendo erguidas desde o início do ano passado. A cooperativa adiou os planos e o início dos abates tem previsão para 2021. Isso se o mercado e os demais fatores contribuírem.
No ano passado, antes das eleições, Zydek havia antecipado que as incertezas políticas colocavam a obra em xeque e que, “caso não vencesse um governo com uma visão mais liberal de mercado, de características reformistas, de direito à propriedade e que garantisse segurança jurídica, ela poderia ser interrompida e só ser retomada em um momento mais adequado”.
“Parar ela não vai”, garante o diretor, que assegura que nenhum dos problemas enfrentados é de ordem financeira.
Além de R$ 1 bilhão para a estrutura, estão previstos ainda outros R$ 400 milhões até o fim da segunda etapa que, no novo cronograma, deve ocorrer em 2026/2027, para o aumento de plantel de unidades produtoras de leitões e terminadores, fábrica de ração, máquinas e equipamentos, totalizando, assim, R$ 1,4 bilhão (a preços correntes) em todo o projeto. “Por incrível que pareça, não falta dinheiro para a construção. Temos as linhas de crédito para o aporte financeiro, parte em financiamento do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], parte dos próprios sócios, que são os cooperados e recursos próprios, e parte de créditos internacionais [que serão emprestados de linhas específicas em instituições fora do País]. Ou seja, dinheiro não é o problema”, afirma.
Inicialmente, o projeto da Frimesa previa um retorno financeiro dos investimentos em oito anos após o início das operações.
Licenças emperradas há mais de um ano
Entre os entraves está uma licença parada há mais de um ano no IAP (Instituto Ambiental do Paraná).
Sem linha de alta tensão ligando o município de Assis Chateaubriand ao frigorífico em obras, a própria cooperativa terá de fazê-la. E essa licença do IAP é indispensável para indicar e certificar o caminho por onde a linha deve passar, mas para isso o Instituto depende de outra liberação. O pedido foi comissionado ao Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), que precisa vasculhar a área para certificar que não existem ali fragmentos históricos de aldeiamentos indígenas ou de colonizações muito antigas, por exemplo. Até agora, não há sinal de quando essa licença será liberada. “Eles querem certificar se existe ou não, por exemplo, uma telha de cerâmica indígena que evidencie fatores históricos. Só isso está parado há um ano”, conta Elias Zydek.
Outra licença parada é de responsabilidade da Copel, para ampliar as subestações de energia elétrica, a exemplo da construção de um trevo no entroncamento da rodovia e do terreno onde estará a planta da nova unidade industrial.
Existem ainda as mudanças no sistema de inspeção federal, que tornam o processo ainda mais rigoroso, mais detalhado e burocrático que refletem no autocontrole da produção, dos animais e dos impactos. O programa foi lançado pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e precisa ser colocado em prática. Isso implicaria no aumento dos plantéis, Hoje o abate da cooperativa, que representa 25% dos abates no Estado e 6% nacionais, saltaria de um alojamento de 90 mil matrizes para 210 mil cabeças na segunda etapa da estrutura.
Os abates, a aftosa e o mercado internacional
Segundo Elias Zydek, os planos estão sendo readaptados diante dos entraves e a situação deve ser ainda mais problemática e comprometedora caso o Paraná não se torne área livre da aftosa sem vacinação. A expectativa é para que a última imunização ocorra em maio, mas isso não está pacificado.
O frigorífico, que terá capacidade inicial para abate de 7,5 mil cabeças de suínos por dia, chegando a 15 mil cabeças/dia no auge da sua operação, promete dobrar o abate regional de suínos registrado hoje. Isso ocorreria em 2026/2027 no reordenamento de planos vislumbrando mercados internacionais, neste momento fechados para o Brasil por questões sanitárias.
Sem o certificado de área livre de aftosa sem vacinação neste ano e não obtendo o reconhecimento internacional em dois anos, a carne suína a ser produzida representaria excedente no mercado interno, sem expectativa de demanda. Para se ter ideia, o Brasil produz hoje cerca de 2 milhões de toneladas de carne suína por ano, dos quais cerca de 20% são exportados.
“Já vivemos uma situação delicada. Ao menos 65% do mercado internacional está fechado para a carne suína brasileira por questões sanitárias. A não abertura de novos mercados compromete o crescimento do setor”, alerta Zydek.
Outros motivos pelos quais as obras do frigorífico também não andaram como o esperado são os entraves econômicos. Zydek avalia que o desemprego e a queda no poder aquisitivo das famílias refletem na diminuição do consumo, o que se espera mudar com a retomada do crescimento econômico.
Reportagem: Juliet Manfrin