Esportes

Robson Conceição busca o inédito ouro olímpico no boxe

O Brasil tem uma linhagem de grandes boxeadores que começa com o lendário Éder Jofre, campeão mundial nos anos 70, passa por Acelino Popó Freitas, duas vezes campeão mundial dos pesos ligeiro, e chega ao sucesso da atual geração dos irmãos Falcão e de Adriana Araújo, os três últimos medalhistas olímpicos. O baiano Robson Conceição, de 27 anos, já faz parte desse grupo. E hoje, na pior das hipóteses, ele entrará para o seleto clube dos medalhistas olímpicos do boxe brasileiro. Conteúdo Boxe 14/08 (1)


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Robson fará a final dos pesos ligeiro (até 60kg) contra o francês Sofiane Oumiha. Se vencer, vai tornar-se o primeiro campeão olímpico da história do Brasil. Se for derrotado no combate que começa às 19h15m no pavilhão 6 do Riocentro, já terá de qualquer forma entrado para a história com a prata olímpica, um feito só conseguido até hoje por Esquiva Falcão. Em Londres, o lutador dos pesos médio (até 75kg) foi derrotado na final pelo japonês Ryota Murata.

Mas a prata sequer passa pela cabeça do baiano de Salvador, que chegou ao Rio de Janeiro com um único objetivo: ser campeão olímpico. A promessa para a filha Sofia, que completará dois anos na proxima sexta-feira, já foi cumprida. Era conquistar uma medalha. Mas dentro de si, Robson só pensava no ouro.

? Estou doido para que chegue logo essa final para a gente buscar o ouro. Estou bastante concentrado e com muita vontade de buscar esse ouro ? disse o lutador.

O lutador treinou duro no último ciclo olímpico somente pensando nesse objetivo. E foi sendo premiado por isso. Após a dura derrota na estreia dos Jogos de Londres-2012 para o britânico Josh Taylor, Robson voltou para a Bahia sabendo que o seu sonho olímpico não poderia se acabar em derrotas na estreia para um pugilista da casa. Sofrera o mesmo para o chinês Li Yang em Pequim-2008 numa luta de resultado controverso. Conheça todos os esportes olímpicos da Rio-2016

Mas Robson não deixou que estas derrotas o abalassem. Quatro anos depois, a casa seria sua e era a sua chance de fazer história. Trabalhou duro com o seu técnico na Bahia e os técnicos da seleção brasileira de boxe. E foi colhendo frutos. Os mais importantes, as medalhas nos dois mundiais que disputou.

Em Almaty, no Cazaquistão, em 2013, Robson foi vice-campeão mundial. Perdeu apenas a decisão para o cubano Lázaro Álvarez, o mesmo que derrotou na semifinal olímpica no domingo passado. Dois anos depois, em Doha, no Qatar, foi medalha de bronze e poderia novamente ter encontrado Lázaro na decisão se não tivesse sido derrotado por Albert Selimov, do Azerbaijão, nas semifinais. No meio disso tudo, chegou a liderar o ranking mundial da sua categoria.

Ou seja, quando entrar no ringue logo mais, Robson estará apenas atingindo o ápice de um planejamento que começou há quatro anos.

PRIMEIRO DUELO

Robson enfrentará pela primeira vez o francês Sofiane Oumiha, um lutador de 21 anos que ainda tem um currículo modesto, mas, assim como o brasileiro, não chegou na decisão por acaso. Medalhista de bronze no Mundial da Juventude de 2012, Sofiane, nascido em Toulouse, no sul da França, conquistou três torneios no ano passado e ainda foi medalha de prata no Campeonato Europeu de Baku, no Azerbaijão.

Na sua caminhada até a decisão, o francês derrotou o hondurenho Teófimo López, o tailandês Amnat Ruenroeng, Albert Selimov, do Azerbaiijão, algoz de Robson em Doha e medalha de prata naquele Mundial, além de campeão europeu em Baku, no Azerbaijão, no ano passado, e o mongol Otgondalai Dorjnyambuu, até então apontado como favorito e um adversário bem duro, que já enfrentara Robson quatro vezes com duas vitórias para cada lado.

– O atleta francês cresceu muito nos últimos anos. Será uma luta bem difícil – disse o técnico da equipe brasileira de boxe, Mateus Alves.

CAMPANHA MARCADA PELA GARRA

A campanha de Robson também não foi das mais fáceis. Embora tenha recebido folga na primeira rodada por conta de sua boa colocação no ranking, Robson pegou logo de cara Anvar Yunusov, do Tadjiquistão, e medalhista de bronze no Mundial de Baku, em 2011. O combate durou apenas um round porque Anvar havia machucado a mão em sua estreia contra o chinês Shan Jun e o brasileiro aproveitou essa vantagem para impor um ritmo intenso à luta e obter uma vitória depois que o rival desistiu no primeiro round.

A luta seguinte, contra Hurshid Tojibaev, do Uzbequistão, já valia uma medalha. Uma vitória garantia a Robson um bronze, pois no boxe não há disputa do terceiro lugar. Quem perde na semifinal, ganha uma medalha referente ao terceiro lugar. O baiano foi muito bem, resistiu aos golpes mais fortes do rival, principalmente no jogo de curta distância, e venceu por decisão unânime dos juízes.

Ai veio a luta contra Lázaro. Um rival sempre complicado, mas com um histórico e equilíbrio entre os dois: uma vitória para cada lado. Como esperado, foi um combate cheio catimba e que deixou todos com os nervos à flor da pele. Mas ao fim, o baiano levou a melhor, venceu por decisão unânime dos juízes e acabou com a “marra” do cubano. Ou, nas palavras de Robson, Lázaro “teve o que mereceu” por não ser humilde. Foi uma vitória com a marca da campanha do baiano no Rio: muita garra, concentração e técnica no estilo de boxe praticado pelo brasileiro.

Para a decisão, a expectativa é de um novo duelo muito difícil. Mas Robson está preparado. Na véspera da luta, estava tranquilo, focado e sereno, segundo relatos de amigos. Concentrado para a luta, mas sabendo que já fez história. A medalha está garantida. Falta apenas subir ao lugar mais alto do pódio.

? Todas as lutas estão sendo muito difíceis. São 28 atletas e todos estavam bem preparados. Eu treinei mais do que eles. Agora chegou a hora de buscar algo mais ? disse. Os recordes dos Jogos Olímpicos Rio-2016