Opinião

Redução de jornais locais afeta política da comunidade, segundo estudo

Opinião de Joshua Benton

O que jornais locais fortes fazem? Segundo pesquisas, eles aumentam o índice de votação dos eleitores, reduzem a corrupção governamental, tornam as cidades financeiramente mais saudáveis, tornam os cidadãos mais informados sobre política e mais propensos a se engajar com o governo local, forçam a TV local a melhorar sua cobertura, encorajam uma eleição mais diversificada e tornam as autoridades eleitas mais responsivas e eficientes.

Jornais locais são basicamente pequenas máquinas que estimulam democracias mais saudáveis. E a melhor parte é que você pode colher os benefícios de todos os resultados positivos, mesmo que você não os leia.

Agora, um novo artigo sugere que jornais enfraquecidos prejudicam as comunidades de uma maneira diferente: reduzindo o número de opções que os eleitores têm de escolher.

O artigo no Urban Affairs Review, de Meghan Rubado, da Universidade Estadual de Cleveland, e Jay Jennings, da Universidade do Texas, examina o que acontece nas eleições para prefeito nas cidades, onde o número de funcionários no jornal local foi cortado. Aqui está o resumo, com meus destaques:

Os jornais enfrentaram desafios extremos nos últimos anos devido ao declínio da circulação e da receita publicitária. Isso resultou no fechamento de jornais, cortes de pessoal e mudanças drásticas nas formas como muitos jornais cobrem o governo local, entre outros tópicos.

Esse artigo argumenta que a perda de experiência profissional na cobertura do governo local tem consequências negativas para a qualidade da política da cidade, porque os cidadãos se tornam menos informados sobre as políticas locais e as eleições.

Testamos nossa teoria usando um conjunto de dados original que corresponde a 11 jornais locais na Califórnia para os municípios que eles cobrem. Os dados mostram que as cidades servidas por jornais com declínios relativamente acentuados no número da equipe da redação reduziram significativamente a competição política nas corridas das prefeituras.

Também encontramos evidências sugestivas de que os níveis mais baixos de pessoal estão associados à menor participação dos eleitores.

Esse não é o primeiro artigo a vincular a saúde dos jornais ao número de candidatos ao governo local. Outro artigo usou a experiência do fechamento do Cincinnati Post em 2007 para determinar que, nos lugares onde o jornal tinha mais leitores, “menos candidatos concorreram a cargos municipais… os candidatos se tornaram mais propensos a ganhar reeleição, e a participação eleitoral e os gastos de campanha caíram.”

Mas a maioria das pesquisas nessa área tem se concentrado no fechamento de jornais e os leitores de longa data do Nieman Lab sabem que fechamentos não são o grande problema (ainda). É que quase todos os jornais locais norte-americanos sofreram cortes e mais cortes até se reduzirem a quase nada. O Cleveland Plain Dealer não fechou, mas sua redação é 1/13 do tamanho que costumava ser. Isso vai deixar uma marca (na sua democracia local).

Rubado e Jennings abordaram essa questão examinando jornais que informam números de pessoal ao censo anual do ASNE e que estão na Califórnia, onde os dados das eleições locais são reportados de forma mais robusta do que em outros lugares. Depois de limitar seu conjunto de dados a jornais que eram claramente o jornal de registro em uma comunidade e estabelecer controles para fatores demográficos e outros, eles se concentraram em 11 jornais, 46 municípios e 246 eleições para prefeito distintas para analisar.

Imagine, então, um jornal diário com circulação de 10 mil pessoas e imagine-o em dois níveis de equipe: uma redação robusta de 18 pessoas ou uma pequena redação de três pessoas. De acordo com as descobertas de Rubado e Jennings, a cidade desse jornal provavelmente teria um candidato a prefeito adicional concorrendo se fosse coberta por essa redação forte de 18 pessoas do que por aquelas três pobres almas sobrecarregadas de trabalho.

Um candidato extra pode não parecer muito. Mas é a diferença entre uma reeleição não disputada e uma competição real, ou entre uma corrida de duas pessoas e uma batalha de três candidatos que dá aos eleitores 50% mais opções. Não é pouca coisa.

Uma redação forte também estava associada a uma margem menor de vitória para o eventual vencedor. De volta a esse jornal imaginário com 10 mil de circulação: com cinco funcionários da redação, a margem prevista de vitória em uma corrida típica de prefeito é de cerca de 50%. Com 15 funcionários da redação, cai para 33%. Com 20, cai para 24%.

Do artigo: Acreditamos que essas descobertas têm implicações importantes. Há tempo os jornais são considerados essenciais para o delicado tecido da democracia. Em um sistema que funciona bem, os cidadãos precisam estar ativamente engajados em seu governo e conscientes das decisões tomadas por seus representantes eleitos. Os jornais são um meio de envolvimento dos cidadãos e esse estudo fornece evidências da importância desse vínculo.

Quando esse vínculo não é forte, quando os jornais perdem a capacidade profissional para cumprir esse papel, vemos sinais da diminuição do engajamento na forma de redução da participação dos eleitores. Além disso, vemos indícios de que, à medida que os jornais reduzem suas equipes, a competição política sofre com menos candidatos à prefeitura. Acreditamos que, quando os jornais reduzem a equipe dedicada ao governo local, é menos provável que os prefeitos sejam responsabilizados pelo fornecimento de informações sobre suas decisões e comportamento.

Para esse tipo de análise, há sempre a questão da causalidade. Sim, a história mais óbvia seria “quando os jornais encolhem, o engajamento político local diminui”. Mas também pode ser o contrário: “Quando a política local se torna mais entediante, é mais provável que os jornais encolham”. Ou ambas tendências podem ser estimuladas por alguma terceira força, digamos: “Quando a economia de uma área está em declínio, o engajamento político diminui e os jornais tendem a encolher.”

Rubado e Jennings se protegeram contra isso ao incluírem um atraso no cálculo dos números. Eles analisaram as quedas dos jornais por um ano e, em seguida, as medidas de participação política para o ano seguinte, o que limitou o grau em que a causalidade pode influir.

Joshua Benton, publicado em Rede de Jornalistas Internacionais