Opinião

Os bônus e ônus do envelhecimento da população brasileira

Dilceu Sperafico é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

Graças aos avanços da ciência, da saúde, da renda, da infraestrutura, do lazer e do bem-estar da população, a expectativa de vida das pessoas cresce a cada ano, mas como tudo tem bônus e ônus, o envelhecimento  poderá também atingir o desenvolvimento econômico e elevar gastos públicos, com custos para toda a sociedade brasileira.

Conforme especialistas, com a redução do ingresso de novos empregados no mercado de trabalho, o País terá de elevar a produtividade da mão de obra ocupada, para manter o desenvolvimento econômico, elevar a arrecadação e sustentar as aposentadorias de trabalhadores e servidores públicos, independentemente de reformas no setor.

O Brasil, como economia emergente e/ou jovem, segundo eles, sempre se beneficiou do chamado bônus demográfico, que é o maior número de pessoas entrando no mercado de trabalho do que as deixando de trabalhar, pelas mais diversas razões.

Por muitos anos, essa combinação garantiu aumento da contribuição em relação ao crescimento econômico do País, elevando a arrecadação e colaborando com o custeio de aposentadorias e benefícios previdenciários.

Com o envelhecimento de maior percentual de brasileiros, o crescimento da economia deverá ser afetado negativamente, no médio e longo prazo, pressionando cada vez mais as contas públicas.

De forma geral, a atividade produtiva contributiva de novos trabalhadores no mercado de trabalho, na questão do bônus demográfico, representava o crescimento anual de 0,5 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB), segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV).

Ocorre que o aumento de pessoas atuando no mercado de trabalho formal resulta na elevação da geração de riquezas do País, colaborando para o melhor desempenho da atividade econômica e da arrecadação de tributos, através do aumento do consumo e seus reflexos positivos em toda a cadeia produtiva.

Com processo de reversão do bônus demográfico, analistas apontam como cada vez mais necessária e urgente a adoção de política de incentivo à melhoria da produtividade em todos os segmentos produtivos, preservando o crescimento da economia e garantindo renda aos trabalhadores da ativa, para o custeio dos futuros novos aposentados.

Os primeiros sinais do final do bônus demográfico positivo já são visíveis na economia brasileira. No ano de 2018, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas dependentes para cada 100 trabalhadores em idade ativa, cresceu pela primeira vez e atingiu 44,03.

Em 2017, a relação era de 43,98 e o crescimento foi surpreendente, segundo o IBGE, pois esse aumento de dependência só era esperado para 2023.

Para calcular o índice, o instituto classifica como dependentes crianças e idosos, por exemplo, enquanto a população ativa abrange brasileiros com idades entre 15 e 65 anos. A previsão é que ela cresça todos os anos e em 2060 chegue a 67,23.

Antigamente, vale recordar, os movimentos demográficos eram mais lentos, mas a situação mudou e a expectativa de vida dos brasileiros ao nascer cresce desde 1940, quando era de 45,5 anos.

Em 2017, chegou a 76 anos, o que deve ser comemorado como avanço da qualidade de vida, mas também preocupar governantes, legisladores e cidadãos.Com o aumento da expectativa de vida da população, quase todas nossas famílias terão membros bem idosos e dependentes no futuro próximo.

Por Dilceu Sperafico