Opinião

O que a Ágatha tem para nos dizer

Por Carla Hachmann

É comum de tempos em tempos alguns assuntos virem à tona. Pena de morte, maioridade penal e “bandido bom é bandido morto” voltam ao debate, geralmente com a discussão polarizada entre os contrários e os favoráveis.

A discussão apenas reflete o esgotamento da paciência, a necessidade de ver respostas, o cansaço à insegurança.

Parece fácil estabelecer a pena de morte a quem cometeu um crime hediondo, trancar na cadeia um adolescente “do mal” ou simplesmente deixar a polícia atirar para matar, sem dó. O problema é que sempre vai haver o inocente no meio.

A morte da pequena Ágatha Félix, 8, no Rio de Janeiro, reacende esse alerta. Em meio a centenas, talvez milhares de bandidos escondidos na favela carioca, há outros milhares de inocentes. É por isso que é tão difícil atirar para matar. Porque ninguém garante que apenas os “maus” vão morrer.

E como fica a consciência daquele policial que acabou com a vida de Ágatha, que só tirava 10 na escola e adorava se fantasiar de Mulher Maravilha? E como fica a mãe de Ágatha, que deu o seu melhor para que a filha tivesse um futuro brilhante?

Seria fácil autorizar para matar se no mundo houvesse apenas polícia e bandido. Mas há milhões de Ágathas por aí. Apenas ano passado, 225 pessoas foram vítimas de bala perdida apenas no Rio de Janeiro. São inocentes que estavam no meio do tiroteio da luta do bem contra o mal.

Agora foi a família de Ágatha que vive o luto. Quem pode garantir que amanhã não seja a nossa? Afinal, somos todos inocentes…