Opinião

O meu bem antes do seu

Por Carla Hachmann

Política é o instrumento pensado para (tentar) conciliar interesses. Contudo, bem antes do interesse comum são os interesses particulares que se evidenciam. Alguns chamam isso de velha política. Outros dizem que barganhar faz parte do jogo. É a “arte da política”.

É por essas e outras que sonhar com a prometida nova política é mais que utopia. Seria estabelecer um novo conceito, ou uma outra forma de articulação.

Pensar no bem comum deveria ser, sim, prioridade. Mas quem pensa são humanos. E eles também têm seus interesses, bem além daqueles mais comuns.

A razão mais simples de as grandes reformas brasileiras nunca terem saído do papel é justamente a falta de consenso em torno do bem comum.

A votação da reforma da Previdência evidencia, escancara isso. E não precisamos nem imaginar práticas corruptas ou ilegais. O toma-lá-dá-cá é do jogo. Alguns precisam pensar na eleição das suas bases. Outros, na própria eleição. São poucos aqueles que olham para o todo e pensam no futuro da nação, mesmo que isso lhe tenha um custo.

Quem dera aqueles eleitos pelo voto popular sob a promessa de fazer do Brasil um país melhor tivessem essa meta como prioridade. Se isso acontecesse nosso presente já seria uma dádiva.

Tirar de um, dar mais para outro, esquecer algum, privilegiar alguém… Não parece haver fórmula justa quando cada um tem seus próprios interesses. Aquele que chora menos é o que vai perder mais. Essa acaba sendo a regra geral. No fim, o que resta é “comemorar” o que sobrou, e se preparar para um novo embate. Afinal, a utopia não fica logo ali.