Agronegócio

Frigoríficos denunciam redução da oferta de boi; caso será investigado

O Sindicarne denunciou ontem que já está faltando carne para abate

Frigoríficos denunciam redução da oferta de boi; caso será investigado

Curitiba – Com as medidas restritivas ocasionadas pela implantação no status de área livre de aftosa sem vacinação, o Paraná já começa a sentir alguns impactos, principalmente na oferta de boi gordo para abate. A reposição de plantel deve a ser feita apenas por meio do corredor sanitário e, por isso, desde o início do ano não podem mais entrar animais vacinados no Estado para abate.

O Sindicarne (Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná) denunciou ontem que já está faltando carne para abate. Segundo a entidade, os frigoríficos paranaenses dependem agora quase que exclusivamente da oferta local de bois gordos.

Até o fim do ano passado, entravam por ano no Paraná mais de 100 mil animais para engorda ou abate, movimentação que agora está praticamente proibida já que a maioria vem de estados como São Paulo e Mato Grosso.

O problema, segundo o Sindicarne, é o transporte irregular de gado para fora do Paraná, cerca de 50 mil animais, e que agora começa a provocar escassez de bois no mercado estadual. “Há uma saída muito elevada de animais para abate do Paraná para outros estados, devido a adquirentes de outros estados que colocam na documentação fiscal que se tratam de bezerros para engorda e não de animais terminados. Com isso, pagam preços menores e quase não recolhem impostos”, denuncia o presidente do Sindicarnes, Péricles Salazar.

A Seab (Secretaria de Estado da Agricultura) recebeu o parecer da categoria e está analisando como serão criadas medidas para evitar que o setor enfrente desabastecimento. A categoria cobra uma ação por parte do governo estadual para que intensifique o controle dos animais que deixam o estado paranaense. Até então, o reforço tinha sido feito com intenção contrária: verificar o que entra no Estado.

“Pedimos que as saídas sejam efetivamente fiscalizadas pelo governo porque o Estado está perdendo receita de impostos e os frigoríficos estão sendo muito prejudicados. Com essa medida, a oferta interna certamente irá crescer”, garante Salazar.

Novo status

O Paraná possui um rebanho de 9,2 milhões de bovinos e bubalinos, distribuídos em 178.885 propriedades e é reconhecido pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) como área livre de febre aftosa com vacinação, como a maioria das unidades da federação. Em outubro do ano passado foi autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a suspensão da vacina contra a febre aftosa e o Estado segue os procedimentos para alcance do reconhecimento de área livre sem vacinação pela OIE (Organização Internacional de Epizootias).

Uma das recomendações é impedir a entrada e a circulação de animais vacinados, salvo em casos especiais. A medida foi adotada no início deste ano.

O setor teme reflexos gradativos com a falta da matéria-prima. “Atualmente há o risco de muitas empresas diminuírem suas atividades ou mesmo deixarem de operar caso essa situação continue”, alerta Salazar.

O secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara, pretende se reunir hoje com membros da Secretaria de Fazenda, no Palácio do Iguaçu, para definir as ações para verificar a situação. “Essa é uma denúncia antiga de subfaturamento da exportação de animais, uma situação que já foi analisada pela Secretaria de Fazenda e até então nada foi constatado, mas decidiremos agora quais os procedimentos que serão adotados”, garantiu Ortigara, que pretende dar mais detalhes hoje sobre as futuras apurações do caso.

Faep nega desabastecimento

O risco de desabastecimento de carne bovina no Paraná é negado pela Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná). “O Paraná pode adquirir de outros estados animais para abate imediato, está autorizado. A única restrição está relacionada à reposição para recria e engorda – estes devem ser feitos com animais do próprio estado”, explica o técnico do departamento do Sistema Faep/Senar, Guilherme Souza Dias.

Os produtores paranaenses têm como alternativa a compra de bezerros de Santa Catarina, onde já há o reconhecimento pleiteado. Porém, os catarinenses são ineficientes em natalidade bovina. “As propriedades têm uma taxa de natalidade estimada em 63% e essas propriedades são ineficientes e estão fadadas à extinção. O que deve ocorrer é a profissionalização do setor para garantir maior aprimoramento da criação”, sugere Dias.